Hoje finalmente consegui terminar revisão da monografia e gosto muito do que
fiz durante o curso de Bacharelado em Artes Cênicas com Habilitação em Teoria
do Teatro. Independente das dificuldades e da minha incapacidade artística em dialogar com o público em geral, hoje acredito muito no valor de tudo que experimentei enquanto PerforMAN.
PARA VER OUTRAS COISAS:
A história sobre a história dos personagens que
faço pensando no filme/teatro inacabável (TÓPICO QUE COMEÇO ABORDAR NA PÁG. 132 DO TEXTO MONOGRÁFICO)
Um
dia Gonzalez teve um sonho (2004), que podia reviver a história de alguém que
viveu a história de alguém por 10 anos. E assim foi vivendo... ele só poderia
contar a história sobre a história depois desses 10 anos. Tem feito isso faz 1
ano... e talvez o faça por mais 9. Então temos 10 anos + 10 anos + 10 anos + 10
anos, de uma história que nem sabemos se é real...
Para
tentar explicar meu projeto, elaborei vários outros projetos... mas só consegui
condensar quando de fato resolvi transformar um perfil particular no facebook
em fanpage, intitulando-me como personagem de um filme (interpretando Gonzalez,
que interpreta o palhaço Low, que interpreta outros personagens...)
Uma
coisa que o facebook tem, que as vezes atrapalhava minha produção, é bloquear
você se ficar “adicionando pessoas que não conhece”. Então criei outro perfil,
e depois outro. Pois ficar 30 dias ou até 60, sem poder add pessoas novas, o
que implica não poder mandar inbox (mensagens privadas) para ”desconhecidos”. E
os artistas novos que sempre precisamos adicionar antes de cada
evento/apresentação? E foi assim que começou uma saga interessante... ter mais de
um perfil, foi o mesmo de perceber que tenho mais de uma personalidade, e que
poderia separar, amigos de Pernambuco, perfil para qualquer pessoa,
principalmente da área artística, e outro para ter as pessoas que mais falo,
e/ou que “conheço ao vivo”.
Então,
em um espaço curto de tempo, me vi com 3 perfis, e nenhuma separação como a
princípio pensei. E comecei a perceber que em cada um, mesmo sendo eu, ao mudar
o endereço de acesso a ele, eu me sentia outra pessoa. A separação de pessoas
que não consegui fazer inicialmente só foi possível quando ano passado decidi
que dois perfis eram “fakes” de mim mesmo, ou melhor, “atores online”. Um eu
quase não usava, e é nele que se encontra a maioria das pessoas de Pernambuco.
Com o outro comecei a adicionar qualquer pessoa que o facebook me indicava, e
sempre que se faz isso, o face continua indicando mais gente, e você começa a
fazer parte de algum “clã”, ou seja, fica com muitos amigos em comum com várias
pessoas, que mesmo desconhecidas, acabam achando que te conhecem. E foi assim
que um perfil meu ficou cheio de pessoas de São Paulo, em grande parte artistas
e pessoas do meio.
Bem,
para não alongar mais a história sobre a história, em 2015 consegui me organizar para condensar meus
trabalhos artísticos em um espaço só, o Blog: http://nemculturanemnepotismo.blogspot.com.br
. Criei um calendário para lançar postagens sobre meus trabalhos, sexta sim,
sexta não, desde a sexta 13/03/2015 (SEXTA FEIRA 13... UUUHHHU). Além disso,
tenho estruturado meus trabalhos, sempre que possível, em forma de Fanpage,
pois facilita falar sobre ele, mesmo que tenham poucas curtidas e eu não
consiga manter todas as páginas ativas.
Sempre nos eventos coloco as páginas na descrição
e consigo novos interessados no meu trabalho. É um trabalho de formiguinha, de
ator, diretor e produtor online, com poucos recursos, muita imaginação e quase
nenhum apoio comercial. O que ainda me sustenta estar produzindo arte, é
perceber que, estruturando os projetos, posso sempre falar deles, e dar aulas sobre
estéticas, utilizando-os como exemplos (mesmo os que não funcionaram muito
bem). E é dessa forma que tenho percebido o valor da minha arte, que por ser
tão efêmera, às vezes me sentia incompreendido, e por vezes “nem me sentia
artista”, uma vez que quase não participo de testes e/ou produções
comerciais/globais/midiáticas, minhas produção independente é a única forma que
tenho produzido cultura e arte, mesmo quando professor em alguma
instituição.
Após
estruturar minhas ideias artísticas, percebi o intuito dos “atores online”, ou
“fakes de mim mesmo”, e tomei a decisão de transformar o perfil que tinham mais
pessoas da área (artística), pois era também o que mais tinha “amigos”, em
fanpage com meu nome mesmo, Lucas Leal[1],
mudando somente o endereço de https://www.facebook.com/Lucaspulonasartes
para https://www.facebook.com/LucasLealPerforMAN. Abaixo a descrição dele e depois começarei a criar a
história com base na história dos 10 personagens que consegui “reviver” a
partir do meu trabalho como ator perforMAN.
Descrição curta:
Faço um filme
inacabável, gravando e exibindo, ao vivo e online, fragmentos de uma história
que nem sei se existe.
Descrição Longa:
Faz 6 anos que gravo
um filme sem fim.
Grande parte da
iniciativa diz respeito a minha vontade de ser (artista).
Outra parte, principalmente a do "não ter fim", se
relaciona com o fato de ser artista independente, nunca tive alguém/empresa que
acreditasse no projeto para ajudar a finalizar.
Pela vontade de ser, juntando a coragem de tentar, e o desejo de
conseguir, não parei de gravar, mas senti necessidade de expor.
E foi assim que comecei a fazer o "filme ao vivo" (uma espécie de teatro cinematográfico). Iniciei a fase de projetar fragmentos do filme durante meus eventos festivos na UNIRIO (o Baile à Fantasia Chapeleiro Maluco e depois o Mundo Mágico de OZ).
Nas exibições muita gente vinha perguntar sobre as imagens, onde poderiam ver (se tinha na internet). E as respostas eram: "não sei", "acho que não", "só eu tenho as imagens"...
A cada novo evento, novas pessoas vinham fazer a mesma pergunta... então
comecei a pensar em fazer o "filme ao vivo e online".
Iniciei abrindo um evento no facebook, dando nome ao filme: “Da Lama ao caos: em busca da humildade” e depois comecei a publicar fragmentos "do filme", que deveria ser "editado pelo próprio público"; e era/é editado por mim "ao vivo" e claro, "online".
Sempre que a data do evento chegava perto de acontecer, eu adiava (já
que a ideia era ser um filme inacabável)... e fiz isso por mais de ano... até
abrir outro evento/filme/performance/teatro online, dando outro nome: “El viaje
del payaso”, mas, seguindo a mesma linha (utilizando imagens novas, já feitas
para isso, e instruía que cada um deveria editar e escolher a trilha sonora,
mesmo indicando algumas músicas).
Percebi, com a segunda versão, que ficar adiando o evento é "um saco", e ganhar público novo em evento é mais complicado...
Daí pensei em realmente "acabar" o filme. Gravamos, e, novamente, não acabamos. Não consegui ver como “pronto”. Talvez não seja para finalizar.
Eu quis juntar nessas novas gravações fragmentos de outras gravações, e
sempre sentia necessidade de construir fragmentos com novas gravações... assim
o filme voltou a "não ter fim", apesar de ter características de obra
artística com fim (inclusive com release e a Fanpage).
Conformado com minha saga de artista cinematográfico realizador de uma
obra sem fim abri mais uma fanpage, com base em um personagem/carro, o fusca
"69", e comecei a usar somente o celular para gravar minha relação
com meu duplo... que na teoria é um Cine-Circo itinerante, e na prática, ainda
estamos comprando material para isso funcionar melhor. Por enquanto estou
criando a história e me relacionando com ele[5].
Assim percebi que o Fusca, os filmes, eventos, outros projetos, ideias, propostas, faziam parte da minha pesquisa em compreender minha própria criatividade/comunicabilidade/existência... e por isso comecei, sem medo, a colocar para circular "as imagens do filme inacabável" (ou inacabado?)...
... Encontro-me hoje fazendo estudos estéticos sobre os processos cênicos desses "blocos prontos"[6] (mesmo alguns com erros e/ou falhas de edição) e dos fragmentos ainda "em fase de não edição"[7] que também entram nas exibições ao vivo.
O filme não tem fim, pois a história toma como base minha relação particular com a vida, ou seja, uma pesquisa autobiográfica, com o tempo: Passado (infanto-juvenil); presente (o agora, o que faço, penso e publico...) com meu futuro (o que vou fazer com essa obra sem fim...).
Rompo com tempo-espaço, revivendo a cada novo evento, os eventos passados, e projetando novas ideias (adiantando o futuro), no instante em que faço (presente).
Exponho partes da minha vida particular, que envolve amigos da infância/juventude, e fragmentos de registros do meu existir, junto com atividades artísticas... dialogando sempre na perspectiva de arte e política no contexto dos contos de fadas (Contos clássicos reinterpretados: Alice no país das Maravilhas; O mágico de Oz; relembrando desenhos e animes que fizeram parte da minha infância, como Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco; Doug Funny e o Homem Codorna; Capitão Planeta; X-Men e Super Campeões).
A pesquisa toma como base alguns livros e/ou textos (A Bíblia; Textos e novelas para nada de Samuel Beckett; Sobre Verdades e Mentiras no Sentido Extra-moral de F. Nietzsche; A crítica da Razão Pura de Kant; entre outras leituras é claro); meus diários de 2009 até 2015 (que faz parte da " minha viagem maluca").
Gravei cenas em Pernambuco; Rio de Janeiro; São Paulo; Curitiba; Florianópolis; Porto Alegre; Uruguai; Argentina; Paraguai; Paraná; São Gonçalo; Bolívia; Peru; Ecuador; Colômbia; Venezuela; Boa Vista; Cariri; Espírito Santo; Bahia...
Em cada cidade, em cada cena, em cada gravação, tive o prazer de reaprender a ser quem sou, de entender o que quero, e de buscar concretizar meu sonho de ser (eu).
"Não é/foi fácil ser eu..."
"Não tem sido tranquilo..."
"Mas vivi muito, me diverti bastante, lutei demais, amei mais
ainda, e chorei... mas, o que mais fiz... foi rezar..."
"Rezo todo dia para concluir o filme inacabado que hoje está
intitulado de 4 Ladeiras e 70 Degraus".
Meu filme sem fim, conta uma história que escrevi em 2004, sobre mim.
Uma busca por mim mesmo.
No filme me chamo Gonzalez, um Uruguaio que interpreta o palhaço Low, que veio ao Brasil de Férias e passou 6 anos em Olinda-PE. Depois chegou ao Rio de Janeiro, onde viveu 6 anos, tendo morado em 18 lugares, fundando a banda que não existe (SaulomBRA Sound System), virando “sucesso” na Favela Vila Parque da Cidade (Gávea-RJ) e atualmente em turnê online[8].
Ao exibir o filme sem fim, edito as imagens na hora, e costumo gravar novas cenas, geralmente com base no evento/local onde estou "intervindo" artisticamente. É por isso um cinema/teatro/performance que acontece “ao vivo e online”.
Na minha filosofia sobre Gonzalez, acredito que ele se encontra em um paradoxo infernal. Ele viveu 10 anos uma vida de alguém que viveu 10 anos a vida de outro sujeito, que fez isso no intuito de mostrar sua capacidade de dominar o outro a partir do poder econômico (pois financia as ações dos dois outros que viveram/vivem sua vida, financiando também a vida de Gonzalez).
É, portanto, um desafio de "não ser", ser Gonzalez, na medida em que ele interpreta quem "não é", com base na história de outro, que viveu também a experiência de "não ser" por 10 anos...
Quem é você nessa história toda? Quem é o Lucas
Leal? O que quero com esse filme sem fim? O que quero mostrar para vocês? Qual
a moral da história? Qual é mesmo a história?
A HISTÓRIA DE GONZALEZ SOBRE SEUS PERSONAGENS:
Gonzalez é um
Uruguaio que vive em 2015 a possibilidade de falar sobre uma história que viveu
10 anos sem poder falar. Tratava-se de um desafio, “viver 10 anos a vida de alguém que viveu a vida de outra pessoa por 10
anos”, recebendo financiamento, tendo ações planejadas e dirigidas por
outro (o que torna ele um ator da vida real), sem poder falar que está
interpretando (que remete a técnica do teatro invisível).
Foi assim que ele
começou a interpretar o Low, um palhaço que perdeu seu filho antes dele
nascer, mas não consegue falar nisso. Ele passa de cidade em cidade, no mundo
inteiro, conhecendo crianças e pessoas, tentando reencontrar o seu filho
(Pepe), mas, enquanto isso não acontece, ele diverte as pessoas revivendo
personagens da sua infância. Esses personagens, ao serem revividos, ajudam Low
no diálogo/comunicação com o público (adulto), que, ao identificar-se, cria uma
atmosfera fantasiosa, entra “no clima”, revivem outros personagens de suas
infâncias, e dialogam com as crianças. Low acredita que dessa forma seu
filho poderá aparecer, ao identificar-se com alguma personagem revivida por ele
ou algum outro adulto.
O primeiro personagem que Low reviveu, fez
parte da minha juventude, o Chapeleiro Maluco, do conto Alice no país
das Maravilhas. Um sujeito que estava aprisionado sempre as 6 horas da tarde,
no dia do seu desaniversário (todo dia que não é seu aniversário), porque
estava brigando com o tempo porque o tempo passava muito rápido. Low se
viu nele, pois percebia que a cada dia que passava seu filho estaria diferente
e poderia estar em outro lugar. E o tempo foi se passando e Low não
achava Pepe, seu filho, e foi brigando com o tempo... e ficou aprisionado como Chapeleiro
Maluco por 4 anos (2011,2012,2013 e 2014), mas, não achou seu filho...
Percebendo que as frases
malucas proferidas enquanto Chapeleiro estavam sendo interpretadas mais
insanamente ainda, Gonzalez decidiu regredir da juventude para infância,
encontrando no Mágico de Oz o personagem Homem de Lata, que já vivera
quando criança na escola. Para Low se desvincular do Chapeleiro
Maluco, no entanto, após 4 anos e 7 edições de evento festivo, não foi fácil.
No último evento houve iniciativa, inclusive buscando outro ator (Rafael Vitti)
para se transformar em Chapeleiro Maluco, uma espécie de
“passagem de bastão”.
O evento foi muito
conturbado e ficou impossível cumprir a “passagem de bastão”... Gonzalez
convocou Low, que convocou o Chapeleiro Maluco, que começou a
transição para Homem de Lata (inclusive cortando o cabelo e entregando
ao público, e claro, ao “novo Chapeleiro Maluco”, o Rafael Vitti); mas,
ficamos com pouco tempo. Não consegui transformar o Chapeleiro em Homem de
Lata, nem transformar o Vitti em Novo Chapeleiro Maluco. Ficou,
nosso Heroi, em estado de Chapeleiro de Lata.
Após esse breve ano
(2014/2015), Gonzalez ganhou sua liberdade, e agora sim, após 10 anos,
pode falar do seu “papel”. Comecei como dito, a divulgar o “filme”, como “obra
acabada”, mesmo que ainda esteja claro o “processo em andamento”. Sendo assim é
um trabalho “inconcluso”, ou melhor, inacabado (por não ter fim), que difere de
inacabável (que não pretende ter um fim).
Tenho então um conflito
na pesquisa, entre inacabado e inacabável, que é alvo de discussão atual na
pesquisa acadêmica, e está sendo debatido aqui no livro/monografia (que terá algum fim). É um trabalho inacabado, que
partiu do intuito de ser inacabável, mas, pelo limite institucional, é OBRIGADO
a ter um fim, mesmo que provisório. Acredito que a obra (o filme, o livro e a
monografia) sempre será inacabada, pois não consegui ver a possibilidade de
encerrar uma história que só começou a ser contada 2014/2015. Uma história
sempre se transforma, principalmente quando ela “fala de uma pessoa que viveu a
vida de outra pessoa por 10 anos, que viveu a vida de outra pessoa por 10 anos,
sem contar para ninguém.” Há muito para revelar...
Dentro dessa história, de pessoas que viveram outras
histórias, temos dois contos clássicos sendo reinterpretados a partir de uma
autobiografia (do autor da história, neste caso, autor da obra/livro/monografia,
Lucas Leal). Dentro dessa reinterpretação, há outras histórias, de desenhos animados e animes, que faz parte da história do palhaço (Low)
interpretado pelo personagem principal da história (Gonzalez), no
intuito de ampliar o diálogo entre artista (Lucas Leal) e o público (em geral).
Este que toma conhecimento direto ou indireto sobre sua obra (o filme e os
eventos festivos), mesmo sem conhecer diretamente o artista, mas sim sua obra
de arte (e mesmo sem considerar tudo isso como arte) é tido como fundamental
para o autor.
Por ser OBRIGADO a dar
UM FIM a obra/história/filme/livro/monografia, decidi que não quero mostrar somente
a LOUCURA que há em mim. Quero também apresentar todo o amor que sinto para
produzir/pensar/criar/imaginar alguma atividade cultural/artística, e por isso,
consegui em abril (2015) fazer a passagem do Chapeleiro de Lata para o Homem
de Lata, que busca seu coração. Mas, como o trabalho é artístico, tomando
como base reinterpretações de histórias e personagens, decidi convocar outras personas para tirar Gonzalez e Low
do país das maravilhas, seguindo por tijolos amarelos, até a Cidade das
Esmeraldas, para encontrar, o Castelo do Mágico de Oz, e consequentemente o meu
(Lucas Leal) coração.
Se a regressão partiu
da juventude/adolescência para infância, com base na fase adulta, aproveitei o
que mais despertou em mim nesses momentos. Em 2014, como professor substituto
da FFP-UERJ (Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro), ganhei um excelente desafio para o trabalho de arte e política
no contexto dos contos de fadas a partir da animação cultural e do movimento
cineclubista (atividade proposta por mim para turma de Educação, artes e
Ludicidade II).
Ao propor aula na
biblioteca (por conta dos equipamentos de audiovisual), não sabia que incomodaria
uma aluna (cadeirante), pois ainda não sabia da sua existência na turma. A
biblioteca fica dois lances de escada mais alto do que a sala, que já fica no
segundo andar, e por conta disso, mesmo indo buscar a aluna no ponto de ônibus,
a vi chorando e me “xingando” sem parar.
Então tive, por impulso, a ideia de perguntar: “Você
tem outra cadeira de rodas”? E ela prontamente disse que sim e perguntou “por
que”? Respondi afirmando: Você pode trazer semana que vem? Eu passarei o dia
inteiro lecionando de cadeiras de roda, para mostrar os problemas de
acessibilidade na Instituição. Então veio aquele silêncio em sala, ela
emocionada falou, “tudo bem, alguém pode trazer?”. Um aluno da turma, Fábio
Farias, disse que sim, na semana seguinte, mesmo chegando um pouco atrasado,
ele levou, e fizemos gravações na Ffp-Uerj.
Participei naquele dia,
como cadeirante, de um conselho extraordinário junto com outros docentes e a
direção da unidade. Eu tinha sido
informado que o conselho era para isso, entretanto, na hora, vi que não. Era
para discutir festas no campus, pois tinham feito uma festa sem autorização.
Além de tudo, o tema era muito parecido com o que discutia na UNIRIO, e claro,
defendi o ponto de acessibilidade em minha fala, mas deixei claro, como todos
já sabiam que minha pesquisa é com FESTA E ARTE, e, portanto, era a favor da
liberação. Eu estava consciente dos problemas que as festas, sem policiamento
ou seguranças, podem trazer, o que implica organização e comprometimento dos
proponentes.
Foi burburinho para cá,
burburinho para lá, direção da unidade revoltada, chefia do departamento de
educação (onde eu era locado até janeiro de 2015) falando que sou muito
performático (e os artistas existem para quê?) e narcisista (e uma pesquisa em
artes com base em minha autobiografia seria diferente? Não... pois fala do meu eu sim. Mesmo que um eu construído em coletividade e a partir
de outras personalidades já existentes e criadas por outros, ou seja, as
personagens que revivo). E, por conta da repercussão negativa (entre alguns
docentes e direção da escola) da minha atitude como docente, e positiva (entre
alguns docentes e principalmente entre os discentes), a turma fez uma surpresa.
Apareceram, na aula seguinte, com o tema artístico da turma (a série A-Mem),
com base no trabalho que eu estava fazendo com eles, já com DVD pronto (usando
imagens gravadas comigo), com episódio criado[9] e uma nova persona para mim (Professor Xavier:
“Sentindo na pele”.).
Capa e contra capa do referido DVD
Foi assim que surgiu o Professor
Xavier, dos X-Mens, depois vou colocar o plano de atividades (parte teórica
do trabalho que deu impulso ao surgimento da ideia), por agora o foco são os
personagens, já que a ideia em si vem sendo discutida no livro/monografia como
um todo. Interessante, no entanto, pontuar algumas questões: O X = que vem de
mutantes virou A = de Acessibilidade; e MEN (homem em inglês, apesar de terem mulheres mutantes também) virou
MEM (A-MEM, de amor, e de religiosidade AMÉM ou AMEM). E eu, como professor
deles, virei o telepata da história em quadrinhos, Tv e Cinema X-Men; para
Gonzalez, foi o mesmo dele “ler o pensamento dos outros”, “comprando uma
briga real” e em busca da práxis autêntica, quando se modifica realmente uma
realidade de opressão. Os discentes se sentiram confortáveis e guiados por
alguém que “falava a mesma língua” e se “interessava pela mesma causa” (de
Acessibilidade, problema enfrentado pela turma, por conta da colega
cadeirante).
Mesmo alguns não
conseguindo se travestir em outra persona
(ou mutante), após esse estímulo lúdico, alguns conseguiram perceber a
importância “da união dos nossos poderes” para uma luta política, mesmo que a partir
do brincar e da arte. Alguns preferiram
ficar na parte de fotografia, outros fizeram poesias, e alguns apenas relataram
o desenvolvimento coletivo, sem, no entanto, participar como “A-mem”, ou seja,
sem buscar encontrar um personagem mutante dos X-Mens e se transfigurar nele
dentro da nossa releitura lúdica e política.
Por conta disso,
acredito que meu trabalho é, antes de tudo, livre, e busco a não imposição,
mesmo que a disciplina seja obrigatória para o curso de Pedagogia na FFP-UERJ.
Participa quem quer, como quer, e busca em si, a partir dos meus estímulos, sua
participação ou não participação (que também é uma importante escolha política).
Quando aspei “da união
dos nossos poderes”, foi para dar destaque a outro personagem, que iniciei
estudos em 2015, e faz parte da nova saga enfrentada pelo Low para
encontrar Pepe, seu filho perdido. Para quem não conhece, a frase é dita pelo Capitão
Planeta, personagem que sempre gostei (Lucas Leal), e me foi sugerido por
Gustavo Cunha (estudante de ciências ambientais, que iniciou comigo o trabalho
do Chapeleiro Maluco e é até hoje um colaborador ativo, mesmo quando não
concorda com algumas propostas, tal como lançar Shiryu, dos Cavaleiros do Zodíaco, a prefeito do Rio de Janeiro em
2012[10] – ele acabou entendendo depois
o caráter de protesto da ideia. Em 2014 lancei Shiryu a presidente do Brasil[11] e em 2015 apresentei como
Novo Ministro da Educação[12]). “Vai planeta”, é dito
por um grupo de jovens, que juntam seus poderes mágicos com base nos elementos
da natureza (terra, fogo, vento, água e coração) para formar o Capitão
Planeta. Após a combinação dos
poderes dos cinco Protetores ele
sempre usa sua frase introdutória "Pela união de seus poderes, eu sou o
Capitão Planeta!".
O oitavo personagem
surgiu um pouco antes do Capitão Planeta, mas também está em fase de
estudo, e se chama Goku, do Dragon Ball Z. Primeiro por achar muito
interessante o personagem, e sempre ter gostado, e segundo por uma questão
física que surgiu com o Chapeleiro Maluco, a mudança de cor do meu
cabelo. Primeiramente deixei laranja, como no filme de Tim Burton (2012).
Depois fui deixando mais para o amarelado (para Low e na rua tem mais
efeito). Assim surgiu, entre uma brincadeira e outra com colegas e curiosos, a
ideia de falar que eu estava (e estou) começando a fazer o Goku quando
se transforma em Super Sayajin pela primeira vez (e seu cabelo passa de preto
para amarelo, sempre arrepiado[13], como o de Low).
Claro que, para
entender, é preciso conhecer um pouco do desenho/anime Dragon Ball Z, e por
isso, sua escolha. Tanto o desenho, como o personagem escolhido, é “bem visto”
pelos jovens/adultos que na década de 1990, como eu (Lucas Leal), eram
crianças. Há também fãs crianças na atualidade, por se tratar de um anime
mundialmente conhecido, que ainda passa, e virou filme/cinema, tal como os Cavaleiros do Zodíaco (apesar de não
interpretar Shiryu, ou seja, não ser
uma das personas, ele faz parte de
ações artísticas/políticas do projeto, como já foi citado).
Neste sentido, como já
dito também, acredito na comunicabilidade que se estabelece entre
ator/diretor/obra e o público, na medida em que cada personagem que trabalho,
surge no intuito de estabelecer conexões entre presente, passado e futuro, na
ideia de reviver e celebrar. É como já tentei explicar em outros momentos, a
construção de memórias coletivas inacabáveis (diferente de inacabadas...), por
realmente não ter fim, nem pretender ter. Elas, no entanto, estão inacabadas em
um breve presente (o que faz delas de certa forma acabadas), com base no
passado, e são revividas em algum futuro (caso falem do projeto para seus
filhos, amigos, etc...).
Pensando em reviver
outros personagens para ajudar na sua saga, Low, como ex-jogador de
futebol e agora acrobata (Gonzalez), decidiu resgatar o seu ídolo da
infância, o Oliver Tsubasa, de Super Campeões (outra série de anime da minha
[Lucas Leal] infância). Oliver, sempre subestimado pela sua baixa
estatura, vai atrás do seu sonho (de ser jogador de futebol), e, mesmo quando
tudo parece que vai dar errado, ele consegue vencer. Encontrar a vitória faz
parte do último salmo bíblico de Davi que trabalhei (o 143, “Após a vitória”).
Eu (Lucas Leal) pretendia encenar
uma personagem para cada salmo, quando tive a ideia de trabalhar os salmos de 1
a 143. Entretanto, conforme a pesquisa foi avançando, percebi a dificuldade de
passar para o papel e estudar 143 personagens, reinterpretando um texto
complexo (como a Bíblia) dentro de várias outras histórias (que já citei
brevemente). Não que me julgue incapaz de fazer 143 personagens em uma única
cena, entretanto, fazer a pesquisa de forma acadêmica, justificar, publicar,
expor e defender (em uma monografia) pareceu “surreal” para meu momento de
vida. Quem sabe noutro momento? E foi assim que surgiu a ideia de interpretar
14 personagens[14],
buscando relacionar as histórias deles, com as minhas, os dose apóstolos +
Jesus + Maria Madalena.
Como fiquei (Lucas Leal)
aprisionando Gonzalez e Low, como dito, por 4 anos, em apenas um
outro personagem, o Chapeleiro Maluco, na primeira prática de montagem, decidi
estabelecer o número de 10 personagens, sendo 4 já interpretados antes (Gonzalez; Low; Chapeleiro Maluco; Chapeleiro de Lata); um
interpretado em outro projeto com base na mesma filosofia dessa pesquisa
(Professor Xavier); mais 5 novos com base nos personagens que mais gostava na
infância/adolescência (Homem de Lata + Capitão Planeta + Goku + Oliver + Doug
Funny como Homem Codorna).
Como já tentei explicar
os 9 persongens, “encerro” este tópico do texto falando de Doug Funny
quando ele vira o Homem Codorna. Esse personagem me foi sugerido
por Renan Leitier (estudante de artes cênicas da Unirio) em 2015, e abracei
imediatamente, tal como Capitão Planeta. O principal motivo de aceitar a
sugestão foi a importância do desenho animado durante minha infância, inclusive
passei muito tempo treinando minha linguagem artística pictórica reproduzindo o
Homem Codorna (quando Doug Funny se transforma em um super-heroi
e cria coragem para falar com sua amada, a Paty Maionese. O heroi que veste uma
cueca por cima da bermuda e usa um cinto de roupa em sua testa só existe nos
delírios de Doug).
Outro motivo de aceitar
o desafio de ser o Homem Codorna se relaciona com o delírio de Doug
Funny, que, ao se transformar em super-heroi, cria coragem de falar com sua
amada. Talvez eu me identifique com isso... sempre fui tímido para “chegar nas
garotas”, e, quando o Chapeleiro Maluco surgia em mim, conseguia
dialogar melhor (mesmo que durante as apresentações seja praticamente
impossível pensar nisso de tanta correria, ainda assim é mais fácil antes e
depois do evento estabelecer diálogos, “puxar assunto” com as “meninas que me
interessam”).
Obs: Fiz buscas sobre cada
personagem, suas histórias, e imagens. Depois pretendia inserir a imagem deles
junto com as minhas ao lado – mas ficou muito difícil isso durante o evento
festivo. Consegui exibir desenhos, filmes e fragmentos dos meus.
[1]
Agora está Lucas Leal Performan – Artista/ator/diretor/professor (personagem de
filme).
[2]
O link não funciona, pois o perfil se transformou em página. Sobre o projeto
conferir no meu glob: http://nemculturanemnepotismo.blogspot.com.br/2015/08/filme-inacabado-ao-vivo-e-online.html
[3]
O link não funciona – mesmo motivo da nota anterior. Ver no blog: http://nemculturanemnepotismo.blogspot.com.br/2015/08/el-viaje-del-payaso-outro-filme.html
[4]
O link funciona, pois já criei como página e não como evento a partir de um
perfil meu.
[5]
Infelizmente me vejo sem tanta força para o projeto, mas de certa forma foi bem
divertido. Aqui um vídeo legal sobre... mesmo que não tenha conseguido o
financiamento coletivo. Link: https://www.youtube.com/watch?v=YxoaQm2FMkE
[6]
Para ver os blocos do filme:
[7] Algumas filmagens
realmente não vou editar, nem pretendo colocar online, e sim, caso finalize um
dia o filme, usar elas, ou, somente ao vivo, como já faço...
[9]
Para ver o material de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=IdZGpcNkB00
[10]
No evento IV do baile à Fantasia do Chapeleiro Maluco. Ver no link: https://www.facebook.com/events/120932998049340/
[11]
Para ver melhor: https://www.facebook.com/events/785160598202354/
[12]
Para apreciar a performance https://www.facebook.com/events/362992757237878/
[13]
Lembra um pouco outro personagem, o Louco do Gibi Turma da Mônica. Low vem de louco, e esta associação só pensei na revisão final do texto, ou seja, não
fez parte do estudo.
[14]
Essa ideia foi abandonada por não ter mais eventos festivos na UNIRIO. Tanto o Baile à Fantasia do Chapeleiro Maluco como No Mundo Mágico de OZ são eventos que
não conseguem autorização para ocorrer na UNIRIO. Por isso, acabei desistindo
mesmo de ser artista. Lá na Unirio se interessam em estudar outros, e nunca nós
enquanto artistas.