Comecei
desde cedo o dia, queria aproveitar minha folga. Lancei notas. Li e corrigi
trabalhos. Fiz atividades do curso de Pedagogia. Selecionei artigos para
estudar. Pensei um pouco sobre minha vida artística. Ajeitei minha cabeça para
aproveitar o dia, sair um pouco. Almocei e li uns textos. E finalmente fui
aproveitar o dia. Uma pausa para um cochilo. Adormeci. Acordei já era noite.
Agora pensei: Essa foi minha folga? Aproveitei meu dia sem trabalho para
trabalhar? Decidi aceitar que não tenho folga, que não consigo parar no meio da
semana por simplesmente estar envolvido em muitas atividades. E assim tem sido
minha vida. E nada de prazer ou lazer? Como um artista, professor de teatro, de
agente cultural e no curso de lazer não consegue ter lazer e prazer? Ou será que sinto prazer em não ter lazer? Ou
meu lazer é não ter prazer? E fiquei aqui refletindo mentalmente sobre nunca
mais ter postado no blog... que precisava escrever alguma coisa... e pensei: O
que preciso escrever? E ai me veio na cabeça que talvez eu não tenha muito que
escrever porque não tenho vivido o que me dava prazer, que era justamente ter
algo que escrever... Então resolvi escrever o dia de hoje. Minha folga do
trabalho, que foi trabalhando. Imaginei todos os professores que se dedicam
muito mais do que eu nas atividades de ensino-aprendizagem e fiquei achando que
talvez eu não devesse mais ensinar porque fico muito cansado para ter prazer em
escrever, que de fato para mim é um eterno lazer... fico feliz quando escrevo.
E quando ensino, só falo... escuto, vejo filmes e ouvimos músicas também... mas
o ensino é majoritariamente falado. E eu gosto de escrever. Principalmente
sobre o que sinto. E sinto que não tenho tido tempo de sentir nada, porque
preciso estar para lá e para cá, falando e escutando... mas daí fui refletindo
também sobre tudo que tenho feito como professor este ano... tentando passar um
pouco da minha experiência artística e cultural... e lembrei que viajei
muito... estive em muitos lugares e sempre pensando que poderia mais, que
deveria fazer diferente do que estava fazendo no momento, que nada estava como
eu queria... e fiquei pensando que nunca estou no lugar que estou de fato...
porque eu sempre quero estar em um local diferente do que estou. E o que isso
significa? Eu não consigo viver? Eu não consigo estar em cada lugar que estou?
Que tipo de sujeito sou eu que estou ali pensando estar em outro lugar? Que
lugar eu gostaria de estar agora, se agora estou escrevendo e acabei de dizer
que o que mais gosto de fazer é escrever? Será que eu queria estar escrevendo
sobre meu desejo de escrever e que não tenho conseguido fazer isso porque estou
fazendo outras coisas que também não sei se faço bem? Será que vivo então um estado de “não ser”? Quem sou eu? O que gosto
realmente de fazer? Acredito que todo mundo passa um pouco por isso em sua
vida. Questiona-se sobre o
que gosta ou que não gosta. Faz coisas que não gosta para ter tempo de
fazer aquilo que gosta. Alguns, ou a grande maioria, não consegue fazer aquilo
que gosta, infelizmente. Outros acham que
gostam de coisas que nunca poderão fazer pelo simplesmente fato de ser inalcançável.
Talvez eu seja uma delas.
Queria viver viajando e morando aqui e ali, a cada instante em uma cidade
diferente, e em algum tempo eu consegui fazer isso, mas não como idealizei...
sem compromissos, sem prazos, sem ter que voltar... sem ter que partir... e
vocês podem estar se perguntando por que eu simplesmente não vou e faço isso...
Talvez por medo? Ou estou
preso ao sistema? Ou não tenho certeza se quero isso de verdade? Algumas
vezes já pensei que gostaria de estar em apenas um lugar, tranquilo, com alguma
companheira, com filhos... e sem compromissos com horários e datas (mas,
filhos, companheira, não são compromissos?). Um sítio no meio do nada. Seria
isso inconsequente? Medo de encarar a vida? Desejo de adolescente? Será que não tenho coragem de enfrentar as
necessidades diárias como todo mundo faz? Não sei explicar... mas a vida
tem sido um desafio que não me neguei enfrentar, ao mesmo tempo em que acredito
não ter conseguido vencer, simplesmente porque não aceito o que vivo e como
vivo... e uma frase tem ficado na cabeça, talvez para eu aceitar... “viver é
como correr contra o vento”...
“viver é como correr contra o...”
”viver é como correr contra...”
“viver é como correr...”...
“viver é como...”
“viver é...”
“viver”!
Hoje eu tive folga e
resolvi escrever!
Beijocas veganas
Lucas Leal