sábado, 26 de março de 2016

Depois de um longo tempo... 26 e 27/03/2016



Depois de um longo tempo... 26 e 27/03/2016

            Acabo de fazer a última exibição/gravação do meu cine-teatro, com imagens desde 2010. Quando sai de casa 10/06/2009, eu tinha um plano. E persegui isso até o final. Que final? Até hoje... até sempre... eu insistiria no mesmo eternamente. Nos meus desejos, sonhos, expectativas, vontades e acasos, fui autor de mim mesmo. Percorri estradas, encontrei pessoas, tive milhões de sensações. Chorei, sorri, cantei, tentei... fiquei triste, muito deprimido. Fiquei eufórico, esperançoso, confiante. Em alguns dias estive apático, anestesiado, cansado, reflexivo e introspectivo. Se eu recontar mil vezes a minha história, alguém sempre lembrará algo que esqueci. Tem também os fatos que não são reais. As interpretações aleatórias. Os julgamentos superficiais e as análises prematuras. Também há muitas imagens que não gostaria de ter visto e outras que preferia que nunca acabassem. Alguns instantes foram eternos, outros nunca precisariam ter acontecido. E é disso que trato no meu trabalho. Dia após dia, tentei ser eu mesmo, no meu mundo, coexistindo intensamente em um mundo vasto de perdições... de vontades alheias, de necessidades inúteis... de verdades inventadas e forjadas por um sistema que nos enquadra, emoldura, define, e regra quem somos e queremos ser.  Se me perguntassem hoje o que falta para minha vida, eu diria: nada. 
            E foi por acreditar que eu tinha muito a dizer, que cheguei a conclusão que não preciso dizer nada. Posso também fazer milhões de coisas sem dizer nada específico. E foi isso que aprendi com todo esse processo de gravações, produções, exibições, tentativas, erros, acertos, necessidades e inutilidades... aprendi que quero viver algo especial... uma vida de silêncio e de vazio... longe das competições de EGO, dos julgamentos sociais, da exposição que é ser público. Aprendi também quem não há volta... quando sai de casa e fiquei tantos anos longe, não imaginava que tudo que procurei sempre esteve aqui. Andar com as cachorrinhas e comer algo simples feito pela minha mãe. Lecionar história ou dormir até 16h porque no dia anterior fiquei escrevendo. Não imaginava que ficar quase 7 anos longe, dando o melhor de mim, em  um mundo onde as pessoas querem atenção, carinho, fama, dinheiro e reconhecimento seria tão cansativo.  Não imaginava que por ser homem branco dos olhos claros e gostar de meninas seria considerado privilegiado. Não imaginava que ter cabelos coloridos ou roupas simples e fazer Le Parkour em um espaço público federal universitário causaria tanto choque. Não imaginava que uma instalação artística, que consistia em uma barraca no jardim desse espaço causariam tantos conflitos. Não imaginava que pessoas que se diziam amigas falam inverdades descaradamente. Não imaginava que artistas marcavam compromissos e simplesmente CAGAVAM para tudo. Eu não imaginava o quão difícil era ser um artista independente vivendo em uma cidade cosmopolita como o RJ sofreria, aos poucos, decepções extremas. Não imaginava que seria chamado de homofóbico por falar para alguém que não gostava que ele me tocasse sempre que me encontrava. Não sabia que ser sincero, honesto e falar aquilo que penso era tão perigoso. Então, silenciei-me. Calei-me e cansei de conviver nesse meio.
            Por muito tempo imaginei o oposto do que hoje tenho certeza, ninguém é tão importante que deva ser lembrado. E por fim, depois de tudo que passei e vivi nos últimos anos, afirmo sem rancor na alma, não me importa o que pensam ou falam. Na verdade, quando alguém se dispõe a falar de mim, ela está dizendo muito mais sobre ela... pois, os que me conhecem sabem, os que gostam gostam, os que não, falam  o que querem... quero ver me superar, fazer melhor ou falar o que pensa na minha frente. Quero ver testar argumentos e oratória comigo. Quero ver ter coragem de soltar em minha frente seus pensamentos reais sobre mim. Não, não é preciso. Prefiro isso, o silêncio. A distância. A ausência total. No final das contas, depois de tantas viagens, países, pessoas, gravações, apresentações, tentativas, erros e acertos, eu ainda tenho muita energia positiva no meu peito. E foi pensando nessa energia que abri o apartamento da minha mãe em Olinda-PE para fazer uma encenação audaciosa. Exibindo e gravando cenas de um filme inacabado... estando em cena e atuando como personagem desse filme que descobre a importância real da vida... eu também descobri. Não importa ser conhecido ou reconhecido. Ter milhões de likes nas redes... não importa se você estiver tenso, angustiado e sofrendo de incertezas... Ao abrir minha casa para essa prática de montagem, 6 anos e meio depois de ter ido embora, eu realmente descobri porque fui, e devo ir novamente em breve, e descobri porque nunca fui feliz longe.
            Eu precisava de calma, de paz, de amor, de carinho, de sinceridade e companheirismo, palavras raras no meio artístico-cultural. Não só nesse meio...  na vida. É raro confiar. É raro ser sincero. É raro amar. É raro dar carinho. É raro viver em paz. A vida nos traz desafios, e o  meu era esse, refletir sobre quem sou, o que faço e o que quero fazer. Se Gonzalez descobre que o importante ele já tinha e deixou para trás, eu Lucas, descubro a cada dia que tudo que preciso está em mim, em cada sentimento bom que existe em mim. Em cada esforço meu para mostrar para algum aluno como compreender o tema. Na minha vontade de ajudar nos problemas dos amigos e de qualquer pessoa que compartilhe comigo uma dificuldade.... eu descobri isso... minhas qualidades são maiores do que os defeitos que a cada instante apontam. Minha impaciência é nítida, pois eu sonhei com um mundo perfeito, e tudo que descobri foi que o perfeito é ser imperfeito. Descobri que quem gosta de beber, deve beber. Quem fuma, deve fumar. Quem gosta de comer e dormir, deve fazer isso. Descobri que eu Lucas gosto de ler, escrever, jogar futebol e sorrir. No final das contas, sem sorrir, nada valeu a pena. E em quase 7 anos no RJ, eu só lembro um dia que sorri de verdade, o dia que fui embora.

*Queria agradecer todas e todos. Sempre estarei dando notícias sobre o andamento da pesquisa com o filme... sempre mandarei novidades sobre atividades acadêmicas... e sempre estarei disponível para todas e todos que me ajudaram um dia, independente de conflitos passados. Mágoas? Não quero guardar... e seria injusto jogar para os outros minhas insatisfações. Eu estive insatisfeito todos os dias que busquei no outro respostas para minhas inquietudes, mas quando mergulhei em mim, vi que poderia gravar, exibir, encenar, produzir e sei lá mais o que, mas eu poderia fazer acontecer aquilo que somente eu compreendia.

**Hoje, domingo de páscoa 27/03/2016, última apresentação do projeto, session infantil, às 15h.

Link de uma crítica de um expectador:



Link do projeto:

  
            ****ahhhhhhhhhhh... e quem viu ao vivo, viu, quem não viu, fica de olho online.

Beijos e queijos

Lucas Leal (qualquer dúvida só chamar 021 9 82030203 / 081 34313413)