quarta-feira, 20 de abril de 2016

Jornalzinho alternativo "Antes que o sol desponte" (abril de 2016)





Fala galera,

                A edição de abril de 2016 do Jornalzinho Alternativo “Antes que o sol desponte”, com apenas 40 exemplares, acabou. Cumprindo meu compromisso com os amigos online, publico todas as páginas. Lembrando que ele foi xerocado em papel reciclado e que ao publicar aqui, demonstro que nunca vou me importar com a quantia apurada (tirando os custos deu isso ai que tá na foto).
                O custo de tempo para elaborar é impossível de ser compensado economicamente e o que me importa é estar colocando minhas ideias na rua e estabelecendo diálogos com transeuntes, amigos, conhecidos e artistas. Dos 40 exemplares restou um amassado e molhado com cerveja. Resgatei ontem na mesa do aniversariante homenageado por mim na página 4, meu amigo Matheus Lins (provavelmente é o exemplar dele ehhehe).
                Alguns exemplares eu dou para pessoas que demonstram interesse e não possuem capital no momento, ou artistas que encontro na rua. Também entrego exemplares para alguns professores e amigos, mas sempre na perspectiva de me fazer comunicável, já que não frequento muitas festas. Com esse trabalho me sinto feliz, alegre e quero muito agradecer todos que ajudaram.
                O projeto surgiu 2010, quando ingressei o curso de Bacharelado em artes cênicas com habilitação em teoria do teatro (UNIRIO). Utilizei ele como cena performativa de conclusão de curso, propondo cena de elaboração/distribuição da edição especial de formatura (dezembro 2015). ‘
                A ideia dele era sempre levar as matrizes em algum evento (na defesa fiz isso e criei um evento), passar para as pessoas intervirem, e depois rodar na Xerox os 40 exemplares. É muito legal fazer assim, e enquanto as pessoas fazem intervenções nas matrizes eu faço algumas performances (o ato de falar sobre o projeto e pedir para qualquer pessoa intervir faz parte da cena performativa também).
                Mas, como expliquei dessa vez para o público, isso demanda tempo (que seja evento longo) e estrutura (uma Xerox próxima, por exemplo). Além de que a versão dessa forma fica com valor específico para aqueles que viram o material sendo elaborado e fica difícil distribuir em outros lugares se não acabar no dia.  
                Dessa vez já levei pronto, mas ainda xerocado. Pretendo em Maio fazer impresso e em papel de carta. Quando sair, divulgo para os interessados em adquirir fisicamente. Há também a possibilidade de você, que se interessar, me convidar para fazer uma versão especial para algum evento seu, inclusive mandando algum texto/poesia/protesto/proposta para anexar com meus textos/ideias/lamentos/sonhos.


Seja feliz (20/04/2016)

Eu tive um sonho,
que queria ser feliz,
Passou-se um tempo,
e agora proponho,
nunca ser infeliz.

e se oponho
ao meu primeiro sonho,
nunca mais proponho.

Mas se me disponho,
e fiz tudo que fiz,
afirmo para sempre,

quero ver você feliz!


               Então é isso... “Antes que o sol desponte”, me chame para algo, fale de mim ou fale comigo, sobre qualquer coisa. E do que trata o jornalzinho? Da vida...

Beijos e queijos,

Lucas Leal
















sábado, 9 de abril de 2016

A história de Valtinho: Um primata albino



            Um dia antes de iniciar as aulas na Escola Municipal Paulo Freire (01/04/2016), no Cabo de Santo Agostinho-PE, joguei futebol na “pelada dos tangas”. Uma pelada, jogo entre amigos, com esse nome, não pode sair coisa boa. Os FDP me chamam de “Pankeka”, porque o idiota do “Carlos”, quando eu tinha 13 anos, perguntou meu apelido, no meu primeiro dia de aula no Colégio São Bento de Olinda-PE.  Respondi que não tinha, mas em um lugar onde eu jogava futebol me chamavam de manteiga, porque segundo eles eu caia muito no chão. Logicamente. Veloz e esperto, não queria me machucar.
            Percebam como o futebol é importante na vida de uma pessoa. Até hoje as pessoas em campo querem me bater. E acham elas que eu devo aceitar isso “numa boa”. Quando não estou muito disposto, principalmente porque estou velho e não quero me machucar, tento tocar a bola rapidamente. Mas meu passe não é lá essas coisas. Sou bom em cruzar ou tocar para o atacante central. Acabo errando muito mais quando toco rápido, e sofro alguns xingamentos dos companheiros de time.
            Antigamente eu prendia mais a bola (ainda prendo quando estou disposto), e por conta disso apanhava bastante, e reclamava bastante, e arrumava bastante confusão. Lógico, a sociedade quer te ver apanhar calado, não sei que porra é essa que nasci, mas há algo errado em mim... Todos podem me xingar, falar mal, bater, e eu tenho que aceitar. Se reclamo, sou o chato, o reclamão... então fui aprendendo que a vida não é tão legal quanto deveria. E isso em todos os lugares que frequento é comum.
            Atualmente tenho tentado ficar calado e/ou sorrir para os problemas da vida. Sempre há algo pior. Sempre vai ter alguém querendo te ver pior. Mas sempre vai ter alguém que gosta do seu jeito de ser, da sua alegria, e vai querer seu bem. Mas... voltando para o surgimento de “Pankeka” em Olinda... o tal do  “Carlos” falou: então agora vai ser “Pankeka” (depois que falei de Manteiga). E pegou. Voltamos para aula, e tinha um Sachê de maionese no chão. Eu pisei e ele estorou melando Erivan (o CDF da turma). Pensei: “me fudi”.  Que nada, “Erivas” era o CDF mais diferente que já vi. Ele até jogava no time da escola. Muito gente boa. Pronto, na outra semana eu já conhecia metade da escola.
            Dos 13 aos 19 usei o “Pankeka” livremente, fiz (má) fama na cidade, e quando comecei a me preocupar com a minha imagem como  professor, tentei eliminar esse nome. Isso rendeu até alguns desentendimentos com os amigos (o idiota do Buxo ficou chateado uma vez). E lógico, foi inútil. Morei dos 23 aos 29 no RJ, e recentemente voltei para Olinda. Refiz contatos e comecei frequentar os locais com os amigos “das antigas”. Lá, como disse no começo, os FDP me chamam de Pankeka. E hoje, novamente, até acho legal. Comecei tentar ser um cara mais leve, livre, menos contestador, mas vira e mexe algumas coisas estranhas ainda acontecem. Deve ser coisa do meu santo (apesar de ser católico) ou sei lá que “miséria” é essa. Coisas estranhas acontecem comigo.
            Ao mesmo tempo em que faço muita gente rir, faço muita gente ficar chateada comigo, com coisas que digo e faço, ou simplesmente por sair por ai com cabelo amarelo, meiões de cores diferentes até o joelho e por ventura, com o rosto pintado. Sim, eu sou palhaço e estudei mil formas e formatos para meus trabalhos artísticos. Mas, vira e mexe sou taxado como louco ou fora do mundo.  Alguns amigos não compreendem. Eles falam entre eles, que devo ser louco, ou ter problemas na cabeça. As vezes isso me chateia, e as vezes eu quero que se fodam.
            O mundo é assim? A vida é isso? Viver e falar das pessoas? Como posso compreender-me como um sujeito se me sinto um sujeito incompreendido? E assim vou levando a vida...nesse segundo escrevo para me libertar dessas coisas. Preciso expor o que se passa comigo antes de relatar o que se passa com o meu meio social...
            No dia 01/04, dormi as 4h, acordei as 6h, e fui correndo para o Cabo, mais precisamente para Ponte dos Carvalhos. Como disse lá no começo, meu primeiro dia como professor. A “pelada dos tangas” acaba umas 22h... e depois tem a “resenha” em um bar próximo. Imaginem que para chegar as 4h em casa, coisa boa não rolou nessa “resenha”. E eu estava de bicicleta...  os meninos mandando eu embora e mandando eu parar com as cervejas e o Alcatrão.
            Quando entrei no whatsapp, 6:38, um FDP, vulgo “Valtinho Puto”, tinha mandado uma msg: “e nada de Pankeka acordar para dar aula”. Né foda mesmo? O cara acorda as 6:38, em vez de me ligar para ver se acordei, manda msg no grupo da pelada, crente que eu não iria acordar. Eu voltei quase dormindo e cambaleando em cima da bicicleta, mas acordei. Cheguei 8:05 na escola, a aula era 8:20.  O que fiz? Pensei: “vou arriar a onda com esse bicho hahaha”.        
            Na primeira turma, sexto ano A, peguei o celular e comecei a gravar em áudio para o grupo da pelada o que eu falava em sala.  Falei que ia contar a história de “Valtinho”, um amigo meu. Quando olhei, meu celular nesse dia não tava gravando áudio, e não tinha enviado nada. Fiquei triste e comecei a dar aula. O sexto ano inicia o curso de história discutindo o que é história e fontes históricas, além de questionar qual o trabalho do historiador.
            Antes de começar o conteúdo do curso eu fiz uma dinâmica: Entrevistando meu professor. Cada aluno deveria elaborar em seu caderno até três perguntas para me fazer. Depois eles faziam as perguntas. Faço isso em todas as turmas. E nem queiram imaginar as perguntas. Lembrem que sou bem branco, olhos claros, e tenho todo esse jeito maluco de ser. Não sou uma figura comum em um município do litoral pernambucano.
            Mas, no geral, perguntam minha idade, de onde venho, quantos anos tenho, meu time de futebol, se sou casado e se tenho filhos. É um “puta” momento para envolver os alunos e falar um pouco de mim de maneira clara, sem ser algo chato para mim ou para eles. Mato algumas curiosidades e ao mesmo tempo vou envolvendo os alunos na minha maneira de pensar e agir. Lógico que algumas perguntas não respondo, e tento não desviar o foco: EDUCAÇÃO.
            Estou ali para educá-los, na perspectiva da disciplina de História. E uma coisa importante para história é: ler e escrever. Por isso faço questão das perguntas serem escritas no caderno. Não é um trabalho meramente fora do contexto. Aluno é curioso mesmo. Eles perguntam muito sobre nós, ainda mais assim, uma figura tão diferente do que eles estão acostumados.  
            Mas, como os áudios não estavam indo, eu acabei por “enrolar” eles e não contei a “história de Valtinho”. Como era sexta feira, imaginei que passaria. Eu não sabia nem o que ia falar sobre Valtinho, pois na verdade ele é amigo dos amigos da pelada, e eu não o conhecia muito. Via que no grupo do Whatsapp os meninos sempre falavam: Valtinho Puto, e depois lançavam um símbolo de dedada. Mas eu nunca tinha conversado com ele até hoje de madrugada (já depois de ter feito essa zoeira com ele na escola).
            Para minha surpresa, quarta feira, quando entrei no sexto A, estavam todos esperando pela história do meu amigo Valtinho. Nosso conteúdo seria “A origem dos seres humanos”. E com toda habilidade de improvisação e criatividade que Deus me deu, associei a História de Valtinho com o tema e com meu objetivo como professor de História. Falei que tanto eles quanto Valtinho e os macacos tinham vindo dos primatas (dessa vez o áudio estava pegando e vários trechos da aula foram para o grupo na internet).
            Foi muito divertido... e em algum momento eu já não tinha muito o que falar, nem sabia o que dizer sobre Valtinho e joguei essa: Quando nascemos, já sabemos falar, ler e escrever? Eles responderam: não. O que é preciso? Estudar, ir para escola professor. Exatamente, mas Valtinho não gostava de escola, até hoje ele não sabe ler e escrever (hihihihi). Imaginem que o áudio disso foi uma comédia. Virou assunto no grupo e muita gente rindo.
            Em determinado momento alguém falou no grupo: Valtinho macaco albino (pois ele é branquinho meio “galego”). E eu ri muito. Eu ri pois foi uma ideia tão sem propósito, falar que ia contar a história de Valtinho, e isso foi tão legal para os alunos. Acho que eles se sentiram pertencendo a minha vida. Em alguns momentos percebo que eles se sentem incluídos na minha vida e para eles isso é importante (eu ainda não sei porque). Deve ser isso que apaixona cada professor. Ontem mesmo uma aluna veio e falou: Obrigada professor, agora eu aprendi como ver o século dos anos (e me abraçou).
            No grupo, depois das piadas, Valtinho falou algumas coisas para mim, inclusive dizendo que tenho lesão no cérebro. Por conta do meu jeito de ser, de sempre refletir, me questionei: Será que ele está puto comigo? Não deve ser muito legal ser transformado em “piléria”. E pensei: Mas não é isso que fazem comigo pelo meu jeito e pelo meu trabalho com artes? Por que os outros podem fazer comigo e eu não posso com eles?
            Bem... fiquei refletindo e ontem, por acaso, encontrei Valtinho em um posto BR, o mesmo que fomos na madrugada de 01/04,  e perguntei para ele. Ele disse que riu muito e que não estava chateado. Eu falei que agora as crianças só falam dele. Disseram que eu deveria levá-lo para escola para elas ajudarem ele a ler e escrever... e assim eu percebi que alcancei algum objetivo: Mostrei para elas a importância do estudo. E ao mesmo tempo envolvi todos da turma no conteúdo de História.
            Ontem chamei Valtinho para ir de primata visitar a escola. Ele riu, uma amiga dele de faculdade ficou apoiando. Mas lógico, eu sei que isso não vai acontecer. O que importou dessa história toda? Além de me sentir feliz em ter mostrado o valor do estudo para aquelas crianças, eu me senti amado por elas. Elas querem saber da minha vida e ao contar sobre um amigo meu, acho que consegui isso.
            Também consegui compreender que essa minha forma diferente de lecionar e até de ser, de certa forma, é estranha para grande maioria das pessoas. Ótimo, já tem muita gente igual por ai. Mas eu também em alguns momentos quero ser igual, ser convidado para uma cerveja no final de semana ou para o casamento de alguém. Também gosto de ficar falando de futebol, garotas, lugares qualquer... ou seja, sou um cara normal.
            Tenho certa sensibilidade e criatividade, mas se você parar para conversar comigo vai ver que sou alguém simples, sincero e companheiro. E nesse momento, aos 30 anos, quero um pouco mais de tranquilidade... quero muita paz... quero amor... quero ser feliz como nunca fui. Ainda não sei a continuidade da História de Valtinho: um primata albino, mas com certeza sei que os alunos nunca vão esquecer essa história.

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