sábado, 29 de outubro de 2016

Quantas coisas boas você falou de alguém hoje?


Mochila e joelheiras (acabei de achar em uma lixeira em Santa Rosa - Niterói-RJ)


               A pergunta que dá o título desse post foi dita pelo professor André Brandão durante uma aula lá no doutorado na UFF e ficou na minha cabeça. Estávamos falando de um autor que apresentei como seminário (Olson Mancur em A lógica da ação coletiva), que nos faz perceber que as pessoas agem por interesses comuns, mas, priorizando os interesses individuais (isso quando ações individuais). Mas para o autor, em grupos de interesses comuns, mesmo que todos agindo por interesses individuais que seria bom para o grupo, isso não ocorre, nem se for para conquista de um bem comum (parece confuso, e é, mas tem argumentos). Dentro dos argumentos, algo me chamou atenção, que é o fato de que, se eu percebo que não agindo terei o mesmo benefício de quem está agindo, e para Olson isso funciona principalmente em grupos grandes, é preciso coerção (como os impostos, por exemplo, ninguém gostaria de pagar, mas pagamos porque é obrigado, e com eles temos os “benefícios coletivos”).
Mas na verdade não quero ficar me dedicando muito na parte acadêmica. Texto passado (não publicado) eu fiz a mesma coisa e vou tentar evitar neste.  Mas resumindo, só agimos em grupos grandes para um bem coletivo através de coerção... quero chegar AGORA na questão dos grupos pequenos... para o autor (infelizmente é mais forte do que eu), em grupos pequenos a participação é mais percebida, portanto, é mais fácil todos os membros do grupo participarem conforme combinado (caso não, é mais fácil identificar e até excluir o membro)... sabemos que na prática não é  bem assim. E durante as falas em sala, comentando diversos assuntos sobre organizações em grupos, chegamos a conclusão que no nosso país não temos confiança suficiente no outro (capital social, que diz respeito a democracia e confiança recíproca, ver Putnam). Vou falar  da nossa realidade. O velho jeitinho brasileiro... as formas de burlar as regras, os combinados... os jogos políticos e de interesses...
... somos então levados a pensar que para termos algo competimos com todos, ao contrário de compartilharmos. Acreditando que, quanto mais acumular, bens, propriedades, coisas materiais, mais bem sucedidos a sociedade considerará, grande parte dos sujeitos vão agindo individualmente, e em grupos pequenos de interesses, onde as relações se estabelecem pelos benefícios econômicos que determinado grupo possibilita... e vamos querendo agrupar cada vez mais benefícios, dispondo cada vez menos de recursos, ou, ganhando mais recursos, gastamos até mais com benefícios, mas buscando a ampliação do bem estar, entretanto, antes, o bem estar econômico.  Se as somas dos ganhos são de números tão expressivos, começamos também a contratar serviços de outros indivíduos, hierarquizando e até subjugando pessoas de acordo com sua posição na estratificação social. Uma sociedade que necessita das divisões e subdivisões de sujeitos a partir da sua ocupação espacial, das disposições dos seus corpos, das cores das suas peles, das escolhas religiosas, das necessidades particulares de orientação inclusive sexual... por fim, de uma sociedade que nos possibilita estarmos livres numa prisão de valores e condicionamentos, de regras... e vamos criando nossas disputas e compartilhamentos (afinal, já falamos bem de alguém hoje? Quantas coisas boas falamos de alguém hoje?).
Então, diferente de outras teorias sociais que citei, entre outras tantas que existem, a minha hoje não precisa de muitas páginas escritas. Eu nem concordo com os autores citados nesse texto, em bem da verdade, preciso dizer que muitas leituras que fazemos, principalmente sobre sociedade (ou melhor, outras sociedades, pois nenhum autor citado trata da realidade brasileira), vão nos trazer concepções e até propostas, mas não precisamos acreditar nelas, muito menos ter como uma bíblia a seguir. Minha tese social vai ser pensar positivamente sobre cada pessoa e situação que eu passar. Como conseguir isso? Ainda estou estudando... mas é isso... vou tentar pensar nessa pergunta todo instante: “Quantas coisas boas você falou de alguém hoje?”

Posso estruturar também algumas hipóteses: Por que falamos mais mal das pessoas do que bem? Vem da competição que nos ensinam para vencer economicamente? Ser melhor que alguém a qualquer custo é ser bem sucedido? Acumular bens, propriedades e capital é nossa função na vida?

*Como eu não ligo muito para ser bem sucedido nos termos citados, não me vejo nesse mundo tão competitivo, mas claro, sempre que faço alguma seleção, tento fazer a minha parte para ser o primeiro, infelizmente o sistema para nos sustentar é assim (queria muito que não...). Não acredito que para ser primeiro eu precise pensar negativamente para o outro, embora já o faça indiretamente. E lógico, não acredito em meritocracia, o que dificulta muito eu achar que minhas conquistas particulares foram somente do meu esforço, e por outro lado, me faz sempre querer mais... enfim... “Quantas coisas boas vou falar de alguém hoje?”

Bjocas
Lucas Leal
                

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Apresentação da proposta de tese em Política Social


Muito feliz pessoal, apresentando em forma de artigo e simpósio a pesquisa que iniciei em setembro. SERÁ durante evento internacional na UERJ (conforme anunciei nas últimas postagens). Teremos uma mesa no seguente evento:




Apresentação em prezi.com:




***********HOJE (quinta, 20/10/2016) Meu simpósio com Elena Shuck (UFRGS):

POL 11 - POLÍTICAS DE ATENÇÃO AS MULHERES E A INTERFERÊNCIA DO ESTADO NOS DIREITOS DE REPRODUÇÃO FEMININA: CONVERGÊNCIAS E DIFERENÇAS REGIONAIS


Endereço: R. São Francisco Xavier, 524 - 1°andar - Sala 1006 A - Maracanã, Rio de Janeiro - RJ, 20550-900

Local: Sala 8050 Bloco F - 8 andar
Horário: 14:30 às 17:30



Beijos,


Lucas Leal 


ARTIGO REVISADO + ANEXO



POLÍTICAS DE ATENÇÃO AS MULHERES E A INTERFERÊNCIA DO ESTADO NOS DIREITOS DE REPRODUÇÃO FEMININA: CONVERGÊNCIAS E DIFERENÇAS REGIONAIS

Autor: Lucas Leal - lucaslealhistoria@gmail.com
Doutorando em Política Social na Universidade Federal Fluminense
Agência financiadora: CAPES-DS
RESUMO
Este trabalho apresenta conceitos da proposta de tese de doutorado em Política Social. A pesquisa, em fase inicial, pretende construir sistema analítico-crítico para avaliação de políticas sociais. Durante a pesquisa se pretende investigar questões referentes às políticas de atenção as mulheres, com ênfase na interferência do Estado nos direitos de reprodução feminina. As primeiras investigações se alinham com recentes propostas para políticas públicas, impondo desafio investigativo contemporâneo acerca da importância, permanência e descontinuidade dos programas e projetos específicos para as mulheres na perspectiva dos direitos humanos. O estudo que centrará questões da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) começa com contextualização das principais questões de gênero que envolve o campo.

Palavras-chaves:
Políticas públicas; Gênero; interferência do Estado.

INTRODUÇÃO
            O trabalho apresenta questões que foram elucidadas para construção do projeto de tese de doutorado em Política social. A proposta tem como objetivo construir sistema de avaliação de políticas sociais para investigar questões referentes às políticas de atenção as mulheres, com ênfase na interferência do Estado nos direitos de reprodução feminina. As primeiras investigações estão alinhadas com as recentes propostas para as políticas públicas, impondo o desafio investigativo contemporâneo acerca da importância, permanência e descontinuidade[1] dos programas e projetos específicos para as mulheres.
            Nas últimas décadas, desde a criação do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1983, pela pressão de movimentos feministas, observam-se mudanças substanciais sobre o protagonismo e a participação efetiva das mulheres em todos os setores da sociedade. Mas, nas empresas, por exemplo, pesquisas recentes alertam questões como: jornadas duplas e até triplas; pouca participação de negras em cargos de chefia; maior presença das mulheres em cargos de subordinação. (GÓIS; TEIXEIRA, 2015).
            O documento de 2004 da PNAISM esclarece questões sobre o PAISM (1983 – 2003) e diz que a Política Nacional está:
(...) marcando, sobretudo, uma ruptura conceitual com os princípios norteadores da política de saúde das mulheres e os critérios para eleição de prioridades neste campo (BRASIL, 1984).
O PAISM incorporou como princípios e diretrizes as propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços, bem como a integralidade e a eqüidade da atenção, num período em que, paralelamente, no âmbito do Movimento Sanitário, se concebia o ar­cabouço conceitual que embasaria a formulação do Sistema Único de Saúde (SUS).
O novo programa para a saúde da mulher incluía ações educativas, preventivas, de diagnóstico, tratamento e recuperação, englobando a assistência à mulher em clínica ginecológica, no pré-natal, parto e puerpério, no climatério, em planejamento familiar, DST, câncer de colo de útero e de mama, além de outras necessidades identificadas a partir do perfil populacional das mulheres (BRASIL, 1984). (pp.16-17).
           
            Para nortear as iniciais buscas vamos ter apoio de análises dos documentos apresentados pela Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) que teve base legal do PAISM[2]. A PNAISM apresenta os principais objetivos das políticas sociais especificas para mulheres, e a partir dela queremos construir análise mais profunda referente à interferência do Estado na reprodução feminina. Discussão tratada pelos movimentos feministas desde a década de 1980, os precedentes da década de 1970, como fontes de dados para pesquisa, inclusive para confrontar entraves institucionais que as mulheres enfrentam a partir de uma configuração cristã que está cada vez mais presente no cenário político nacional (Schuck, 2013).  
            Perceberam-se na fase de exploração da pesquisa diversas instâncias de políticas para mulheres. Há indicações dos caminhos a serem adotados no que se refere ao Planejamento familiar no Brasil[3] que também apontam questões importantes sobre assistência para reprodução feminina através da Resolução 426/05[4]. Neste trabalho apresentaremos como pensamos a construção do mapeamento acerca do processo de interferência do Estado na reprodução feminina, analisando as convergências e diferenças municipais, estaduais e federais. Para este objetivo selecionamos cinco instâncias públicas, uma por região do país, desvelando o documento mais recente da PNAISM (2013 – 2015), que apresenta a fundamental questão da autonomia das mulheres sobre a reprodução feminina. Segundo tópico 3.4.6. é importante:
Fomentar a educação permanente dos profissionais de saúde para ofertar o planejamento reprodutivo, respeitando a autonomia das mulheres, reduzindo as iniquidades e as reconhecendo em sua pluralidade. (p. 35)

           

            Escolhemos para o mapeamento a Coordenadoria de Políticas e Direitos das Mulheres de Niterói – CODIM [5]– RJ (Região Sudeste); a Secretaria da mulher em Recife – PE[6] (Região Nordeste); a Secretaria Executiva de Política para Mulheres – SEPM-AM[7], dentro da estrutura da Secretaria de Governo (SEGOV) e hoje é parte da estrutura da Casa Civil do Governo do Estado do Amazonas (Região Norte); a Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para as mulheres de Florianópolis[8] que conta também com o CEDIM/SC Conselho Estadual dos Direitos da Mulher[9] (Região Sul); por fim, a Secretaria de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH) que fica em Brasília – DF[10] (Região Centro-Oeste).

            Como a pesquisa está em sua fase inicial, não apresentaremos nenhum dado específico sobre o trabalho de campo. Neste trabalho, vamos apresentar as questões conceituais que estão sendo exploradas para inserção no campo. Portanto, trata-se de um trabalho de informação acadêmica sobre uma pesquisa de doutorado em Política Social em fase inicial. O desafio aqui é expor as iniciais proposições que permeiam o tema, e ao longo do trabalho ficará evidente que é preciso uma investigação analítica-crítica sobre questões de gênero a partir de uma contextualização histórica. O arcabouço metodológico, consequentemente, é uma breve revisão de autores e conceitos que ajudarão na formulação da referida tese, além de apresentar os caminhos pensados para pesquisa.

 

EXPOSIÇÃO DO TEMA E REFERÊNCIAS TEÓRICAS

            Algumas dúvidas e questionamentos são fundamentais para qualquer projeto de tese: o que pesquisar; como pesquisar; e o porquê pesquisar. As primeiras dúvidas são questões que o tema de pesquisa vai levantar sobre gênero. Identificando-me como pesquisador, gênero masculino, investigar questões de gênero feminino é um desafio claro. Como educador plural, que necessariamente atuo como mediador de conhecimentos das ciências humanas, como História e Sociologia, atuo diretamente com múltiplas possibilidades de identidades, tanto de etnias, quanto de gêneros.
            O tema surgiu por essa conflitante necessidade de compreender Políticas sociais para mulheres e atuar com identidade de gênero masculino. Há discursos feministas que afirmam ser fundamental espaço de fala e discussões exclusivas para mulheres, sobretudo, em questões sobre elas. Mas, buscando compreender as questões das mulheres enquanto educador/pesquisador das ciências humanas encontrei na temática desafio para projeto de tese de Doutorado em Política Social. Segundo Ghanem (2007):
Há muitas maneiras de se influir na formulação, desenvolvimento e fiscalização de políticas públicas para, por meio delas, contribuir para a concretização de mudanças progressistas na organização política, econômica e cultural de nossa sociedade. (p.8).

            A tese terá como foco a linha de pesquisa avaliação de políticas sociais, dando ênfase nas políticas de atenção as mulheres e a interferência do Estado nos direitos de reprodução feminina, compreendendo convergências e diferenças regionais. Nas buscas iniciais surgiram hipóteses, temas e possibilidades para construir instrumentos no plano macrossociológico. O desafio investigativo inicial foi encontrar política específica para avaliação. Encontramos importantes questões para o projeto através da possibilidade de avaliação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM), no intuito de compreender como “Democratizar a Gestão das Políticas Sociais – Um Desafio a Ser Enfrentado pela Sociedade Civil” (RAICHELIS, 2000).
            O tema revelou necessidade de compreender questões de outras linhas de pesquisa, como as Relações de Gênero, orientação sexual e Política Social que permeiam o sistema capitalista e as políticas para mulheres. Por conta do citado sistema socioeconômico, a pesquisa também acaba por abranger questões de Responsabilidade Social Empresarial, especificamente quando relacionam políticas para mulheres e reprodução feminina, onde se destaca a questão da maternidade. Como consequência se observou um campo multidisciplinar e optou-se por também elaborar como instrumento de pesquisa a contextualização e caracterização histórica no plano microssociológico.  
            Por isso, para argumentações, hipóteses e questionamentos da proposta de tese é preciso considerar questões histórico-sociais referentes a PNAISM (criada em 2004 e as mudanças ocorridas que constam no último Plano Nacional de 2013-2015) com base no Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM, criado em 1983); na tese estaremos resgatando os principais teóricos ao longo das décadas de 1970 (precedentes importantes), 1980, 1990, 2000, 2010 até a década de 2020 (término do estudo); destacando especificidades que encontraremos durante o mapeamento; dando atenção as principais ações e políticas implantadas.
            Conforme delineamento do objeto durante a fase inicial da pesquisa, de acordo com Minayo (2010), após complexo levantamento bibliográfico sobre as questões que envolvem a área de políticas públicas específicas para mulheres, destacam-se alguns teóricos: Corrêa & Petchesky (1996); Alvarenga & Schor (1998); Costa (2004); Silva (2000); Montaño, Pitanguy & Lobo (2003); Correa e Piola (2002 apud PNAISM 2004); Raichelis (2000); Ghanem (2007); Coelho (2008); Melo (2013); Brasil e Oliveira (2013); Schuck (2013); Tilio (2014); Kornijezuk (2015); Bandeira (2015); Góis & Teixeira (2015). Esses autores, entre outros citados por eles, são fundamentais para compreensão do tema, dando suporte para o período de aplicação de questionários com os principais gestores dos locais selecionados para mapeamento, dando ênfase na reprodução feminina.
            Para aplicação de questionários selecionamos secretarias e/ou coordenadorias.  A primeira selecionada foi escolhida por proximidade com a Instituição onde o estudo estará vinculado. Segundo o site (nota de rodapé 5) a Coordenadoria de Políticas e Direitos das Mulheres (CODIM – Niterói, região Sudeste):
(...)  tem como papel fundamental contribuir para a promoção da equidade de gênero, através da implementação de políticas públicas que efetivem os direitos humanos das mulheres e reforcem a sua cidadania, superando as situações de desigualdades vivenciadas pela mulher na sociedade.
A CODIM é um organismo da Prefeitura Municipal de Niterói, criado em março de 2003 (...) constituiu-se num espaço estratégico de incentivo aos demais órgãos municipais no desenvolvimento de políticas públicas voltadas para as mulheres.

            O segundo local a ser estudado será a Secretaria da mulher em Recife – PE, criada em 01 de janeiro de 2013 através da Lei nº. 17.855 (região Nordeste) que:
(...) tem a finalidade de promover políticas públicas para as mulheres e enfrentar o preconceito e as desigualdades de gênero, raça, classe, geração e orientação sexual. Entre as suas atribuições, está a promoção de políticas públicas para o conjunto dos segmentos da população feminina, em especial para as mulheres negras, pobres, lésbicas, com deficiência e idosas, priorizando programas voltados para a prevenção e enfrentamento da violência doméstica sexual e urbana contra a mulher, além de ações de formação sociopolítica e econômica que visam ao empoderamento feminino. (link na nota de rodapé 6).

            Seguiremos o mapeamento através da Secretaria Executiva de Política para Mulheres (SEPM-AM), instituída pela lei 3873/2013, dentro da estrutura da Secretaria de Governo (SEGOV) e hoje parte da estrutura da Casa Civil do Governo do Estado do Amazonas (região Norte). Durante a pesquisa (nota de rodapé 7) encontramos que:
Suas atribuições também incluem a articulação de estratégias de adiantamento e busca de informações para qualificar as políticas públicas a serem implantadas pelo Estado; a execução de ações do Plano Estadual de Políticas para as Mulheres; prestar assistência aos programas de capacitação, formação e de conscientização da comunidade, no que se refere às questões de gênero, Lei Maria da Penha e serviços de atenção à mulher; promover a realização de estudos, pesquisas e debates sobre a situação da mulher e sobre as políticas públicas de gênero; e de dar suporte aos municípios para efetivação de políticas para as mulheres.

            O quarto local escolhido foi a Coordenadoria Municipal de Políticas Públicas para as mulheres de Florianópolis, que conta também com o CEDIM/SC Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (região Sul); Segundo site (nota de rodapé 8) é:
Vinculado diretamente ao Gabinete do Prefeito, contudo, utiliza a estrutura administrativa da Secretaria Municipal de Assistência Social.
Criado por intermédio da Lei n. 7625, de 5 de maio de 2008. Tem como objetivo principal assessorar, assistir, apoiar, articular e acompanhar ações, programas e projetos direcionados à mulher.

O último local a ser investigado na tese será a Secretaria de Estado de Trabalho, Desenvolvimento Social, Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos (SEDESTMIDH), região Centro-Oeste. Esta é a mais complexa e abriga inúmeras pautas. No site (nota de rodapé 10) temos que a Secretaria:

(...) foi criada pelo Decreto nº 36.832/2015 e se configura como um dos órgãos de gestão da administração pública do Governo Distrito Federal.
Tem como objetivo primordial, garantir e efetivar o direito à proteção social para a população em situação de vulnerabilidade e risco social, por meio da oferta de serviços e benefícios que contribuam para o enfrentamento da pobreza, a garantia dos mínimos sociais, o provimento de condições para atender contingências sociais e a universalização dos direitos sociais, por meio do desenvolvimento de potencialidades, da autonomia, do empoderamento das famílias e da ampliação de sua capacidade protetiva.
           
            Ao selecionar cinco secretarias e/ou coordenadorias específicas para mulheres, uma de cada região do país, não estabelecemos ordem única na construção da proposta de avaliação sobre a PNAISM. As escolhas foram recortes iniciais, um caminho acadêmico do projeto de tese em política social, que requer ainda entender a posição do Estado a respeito da reprodução feminina.  Alvarenga e Shor (1998, p.89) apresentam importantes conjunturas históricas:
A primeira conjuntura, de 1965 a 1974, inscrita num regime de exceção, é definida por um Estado pró-natalista, defensor de uma concepção desenvolvimentista de ocupação de espaços, muito embora bastante permissivo, tolerante mesmo, à atuação de clínicas privadas de "planejamento familiar" no país, cujo caso típico refere-se à presença da BENFAM[11], a partir de 1965, em solo nacional (CANESQUI, 1984,1985; ROCHA, 1989). A segunda conjuntura, a partir de 1984, chega, notadamente até 1993, marcada pela posição ambígua do Estado frente à assunção, de fato, de uma política nacional, ou de "planejamento familiar", ou de "controle da natalidade". Tendência diferente observa-se na última conjuntura pós 93 pela descaracterização da discussão em termos polares. (...) foi marcante a busca de inserção da discussão da questão da contracepção num contexto mais amplo, definido pela Conferência Mundial de População e Desenvolvimento realizada na cidade do Cairo, em 1994 (WELTI, 1997), onde os direitos reprodutivos e a questão de gênero ocupa lugar de destaque na definição dos pontos a serem enfocados. Consagra-se, neste contexto, a área da Saúde Reprodutiva que passa a incorporar o homem como elemento integrante dadas as relações de gênero. (CORRÊA &PETCHESKY,1996)

            A tese pretende desvelar diretrizes encontradas e levantar questões teóricas da temática das políticas de atenção as mulheres. A pretensão com a conclusão é obter dados robustos e análises comparativas entre as secretarias e/ou coordenadorias das cinco regiões do Brasil. Por isso será fundamental contextualização histórica e de aprimorado material bibliográfico. A ênfase na interferência do Estado na reprodução feminina é importante, pois faz parte da pauta mais atual dos movimentos feministas. As autoras (idem, ibidem, pp. 102-103) afirmam que:
Destacam entre os pontos positivos a afirmação da sexualidade como um direito, a ênfase na necessidade de fortalecer o status da mulher ("empowerment of women") e de promover novos conceitos, como os de maternidade segura e direitos reprodutivo (..) é possível entender porque a conjuntura PÓS 93 encontra espaço propício no Brasil para o deslocamento da discussão planejamento familiar versus controle da natalidade para temas polêmicos como a descriminalização do aborto e a regulamentação, pelo Estado, da esterilização feminina e masculina, na medida em que a discussão dos mesmos inscreve-se no contexto dos "direitos sexuais e reprodutivos" firmados pelo Programa de Ação aprovado na Conferência de Cairo.

            No Documento da PNAISM (2004) temos que:
O balanço institucional das ações realizadas no período de 1998 a 2002, elaborado por Correa e Piola, indica que, nesse período, traba­lhou-se na perspectiva de resolução de problemas, priorizando-se a saúde reprodutiva e, em particular, as ações para redução da morta­lidade materna (pré-natal, assistência ao parto e anticoncepção). (p.18).
           
            Tecendo referências sobre a PNAISM, Brasil e Oliveira (2013) informam que:
A saúde da mulher passou a ser uma prioridade e estabeleceu parcerias com diversos setores da sociedade, em especial com o movimento de mulheres, o movimento negro, movimento de trabalhadoras rurais, sociedades científicas, pesquisadores e estudiosos da área, organizações não governamentais, gestores do SUS e agências de cooperação internacional. Este formato apresentou uma participação organizada a partir do envolvimento, principalmente, dos movimentos feministas. (Brasil/MS, 2004). (p. 15).

            Para elas a PNAISM com origem no PAISM e as referidas conjunturas, apresentam questões novas, como a importância a assistência em todas as fases de vida, clínico ginecológico, de direitos reprodutivos (planejamento reprodutivo, gestação, parto e puerpério) e casos de doenças crônicas ou agudas, como dito, que entraram para a agenda da saúde da mulher no Brasil (Brasil/MS, 2004 apud idem, ibidem, p.13). O cenário de discussão sobre “Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos” como saúde integral das mulheres reforça o caráter participativo dos movimentos feministas, conquistado nas Conferências de Políticas para as Mulheres entre 2004 e 2010. As autoras afirmam anteriormente (idem, ibidem, p.8) que:
O movimento feminista brasileiro ao longo de sua história ampliou muitos direitos das mulheres, que ainda não são plenamente garantidos. Entretanto, algumas novas reivindicações fazem parte da pauta do movimento no Século XXI: o reconhecimento dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais; o direito universal à educação, à saúde e à previdência. A defesa dos direitos sexuais e reprodutivos, o direito das mulheres sobre a gestação, com acesso de qualidade à concepção e/ou contracepção e a descriminalização do aborto enquanto um direito de cidadania e questão de saúde pública são outros exemplos de temas que compõem a pauta do movimento atual.
           
            Além da continuação da ampliação de ações para enfrentamento à violência sexual, temos a inclusão dessas novas perspectivas de direitos para mulheres no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (2013-2015) da PNAISM a ser analisado na pesquisa. No capítulo 3 “Saúde integral das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos” (pp.29-40), encontramos, entre outras, a “Linha de ação 3.9. Fortalecimento da participação e do controle social na implementação e monitoramento da política nacional de atenção integral à saúde da mulher (PNAISM)”; destacando a ação 3.9.1 para nossa pesquisa: “Implementar estratégias de comunicação para difusão dos direitos sexuais e direitos reprodutivos das mulheres, incluindo as especificidades das mulheres com deficiência.” (p.38).
            As principais questões que aparecem quando tema é reprodução feminina e interferência do Estado são: aborto, contracepção e reprodução assistida. Essa última consta como planejamento familiar na Resolução 426/05 que resolve no Art. 1º  “Instituir, no âmbito do Sistema Único de Saúde – SUS, a Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida, a ser implantada em todas as unidades federadas, respeitadas as competências das três esferas de gestão.”
            Com base no referencial teórico e as últimas pautas dos movimentos feministas temos ainda uma questão importante para tese: identificar estratégias utilizadas pelos segmentos cristãos[12] na esfera pública e arena política a respeito da reprodução feminina. A questão deve aparecer nos questionários, sendo assim, parte importante para construção de conclusões que dialogam com questões mais atuais sobre o tema estudado. Schuck (2013) alerta para problematizar de maneira crítica “antes de partir do pressuposto de que a emergente bancada evangélica brasileira[13], na sua totalidade, traz consigo valores misóginos que contrariam os objetivos das políticas de gênero no Brasil prejudicando o desenvolvimento democrático (...)” (p.2). Compreendendo as questões da tese como avaliação de políticas públicas sociais, mas também de conquistas dos movimentos feministas, segundo a autora (idem, ibidem, p.3):
Nos diversos processos de elaboração de políticas para as mulheres, cabe ressaltar o papel crucial dos movimentos feministas e de mulheres, que de acordo com Pitanguy (2011), através do processo de advocacy, modificaram substancialmente o lugar dos direitos humanos das mulheres no Brasil. Este processo de advocacy, cuja terminologia deriva da língua inglesa, objetiva conjugar agendas e estratégias, conteúdos e táticas de diversos atores políticos para se chegar a uma compreensão comum do contexto analisado e finalmente dar início a um processo político. As ações de advocacy podem então ser iniciadas a partir de cartas e manifestos, debates, passeatas, encontros, petições, campanhas, artigos na mídia, marchas, dramatizações, discursos, divulgação de resultados de pesquisas e estudos, lobby no legislativo e diálogo com a mídia. (Pitanguy, 2011).

            A autora faz análise do Estatuto do Nascituro[14] - “defendido principalmente por uma bancada legislativa motivada por valores religiosos” (p.4). Notícias circulam como aprovado o projeto em ata da 18ª reunião ordinária (19 de maio de 2010)[15] e posiciona como ele sendo “em defesa da vida”[16]. Em uma busca mais apurada, verificamos que o projeto que tem a seguinte “Explicação da Ementa”: Altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 1940 e a Lei nº 8.072, de 1990, está em tramitação com o texto substitutivo da ex-deputada Solange Almeida (PMDB/RJ)[17] e o pedido de consulta pública do deputado Marcos Rogério (PDT/RO)[18] foi aceito em 08/09/2015[19]
            Schuck (idem, ibidem) diz que “no ano de 2013, esse projeto que visa estabelecer os direitos dos embriões (chamados, nascituros) foi aprovado pela Comissão de Finanças e Tributação (CFT) da Câmara Federal dos Deputados” (p.4). Segundo a autora, o conteúdo é “retrogrado e visa criminalizar casos de aborto já permitidos pela legislação brasileira” (p. 4). Ela considera que há uso questionável de que “o nascituro e o embrião humano teriam o mesmo status jurídico e moral de pessoas nascidas e vivas.” (p.4). O Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres rejeitou o projeto e diz que ele viola os Direitos Humanos e reprodutivos das mulheres e suas conquistas históricas.            
            A mesma autora informa que “(...) o apoio ao Estatuto do Nascituro não vem apenas da frente Evangélica. A Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) promoveu em Brasília uma marcha a favor da aprovação do projeto, convocando os fiéis católicos a participar do movimento “Pró-vida”.” (p.5).  Ela conclui atuação das bancadas religiosas – principalmente a FPE[20] - no que concernem os direitos humanos das mulheres. Para ela “(...) visando estabelecer condutas morais que vão de acordo com preceitos bíblicos, a interferência da bancada evangélica em questões ditas laicas, tais como os direitos sexuais e reprodutivos da mulher e os direitos LGBT, gera questionamentos quanto à secularização do Estado Brasileiro.” (pp.5-6).
            Neste sentido ela diz que “as linguagens religiosas podem invocar a violência contra a mulher” (idem, ibidem, p.7). A sugestão seria a promoção de direitos individuais e a autora nos chama atenção para o contexto brasileiro “no qual os direitos individuais cedem espaço para estatutos e propostas legislativas de carga moral cada vez mais fundamentalista” (p. 7), por isso, seguindo seu pensamento, “crescem os desafios para consolidarmos uma democracia laica, que preze pela justiça de gênero e pela cidadania.“ (pp.7-8). Neste sentido encontramos importância de propor estudo avaliativo sobre a PNAISM como mecanismo para compreensão das atuais políticas sociais para as mulheres. A seguir apresentamos os objetivos e a metodologia do estudo.

OBJETIVOS
Geral
            Construir avaliação sobre a PNAISM, analisando convergências e diferenças regionais sobre a interferência do Estado nos direitos de reprodução feminina.


Específicos
- Investigar contexto histórico-social de 1970, que precede a década do surgimento do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PAISM) em 1983 e a importância da reivindicação de direitos e cidadania pelos movimentos feministas.
- Caracterizar e contextualizar as décadas de 1980, 1990 e 2000 com surgimento do PAISM até a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) em 2004 e as novas pautas dos movimentos feministas.
- Analisar questões sobre a reprodução feminina na PNAISM (2004 – 2014) em comparação com o PAISM (1984 – 2003) – observando a política até conclusão da tese.
- Construir mapeamento das convergências e diferenças regionais sobre reprodução feminina a partir de cinco secretarias e/ou coordenadorias, uma de cada região do país.
- Identificar as principais estratégias utilizadas pelos segmentos cristãos na esfera pública e arena política a respeito da reprodução feminina.

METODOLOGIA
            Na pesquisa tomaremos abordagem metodológica de caráter exploratório e descritivo, considerando o contexto histórico-social de cada ambiente como fonte direta dos dados. Faremos nos dois primeiros anos levantamento bibliográfico e de documentos legislativos que cercam a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) que surgiu 2004, originária do PAISM de 1983, incluindo questões de direitos sexuais e reprodutivos. O recorte tempo-espaço é, enquanto questão política social, o processo histórico-social da PNAISM.
            A primeira parte brevemente apresentada neste trabalho, traz arcabouço teórico, contextualizações sociológicas, históricas e políticos-governamentais, compreendendo múltiplas atuações das políticas públicas sociais de acordo com as mudanças políticas institucionais.  No contexto do início da redemocratização, temos um quadro, inclusive econômico, completamente diferente em relação a década de 2004 até 2014, por exemplo, com introdução das novas tecnologias de informação e as novas reivindicações dos movimentos feministas. O recorte temporal e histórico seriam quatro décadas (1980, 1990, 2000, 2010) que precedem a década que enceraremos o estudo (2020), além dos precedentes, década de 1970 e surgimento dos movimentos feministas (sobretudo nos EUA). É, portanto, um estudo complexo que requer muito cuidado no trato com as fontes, uma vez que o tema desvela múltiplos atores sociais e históricas questões de opressão, principalmente de gênero.
            Como recurso, além de análise bibliográfica que nos dedicamos a apresentar neste trabalho, vamos aplicar questionários, a partir do segundo ano, com responsáveis pelas secretarias e/ou coordenadorias regionais selecionadas para o estudo. Abaixo o questionário semi-estruturado com 7 perguntas:
1-Quais principais ações e programas sociais da sua secretaria/coordenadoria?
2- Quais são as principais teorias e teóricas/os que norteiam o pensamento político na sua gestão?
3- Como se estabelecem os diálogos entre esferas Federais, Estaduais e Municipais a respeito das Políticas para Mulheres?
4- Em que nível de importância a sua gestão pensa nas diferentes políticas implantadas de acordo com as realidades socioeconômicas? (No que se refere as políticas de reprodução feminina; direitos sexuais e reprodutivos.) 
5- Qual orientação da Instituição a respeito das diferentes orientações sexuais das mulheres participantes nas diferentes ações e/ou programas sociais? Sobre reprodução, por exemplo, quais possibilidades de assistência para mulheres assumidamente homossexuais? E negras? E pobres?  Como é feita a triagem a respeito da temática que envolve reprodução assistida? E sobre aborto, qual postura adotada pela instituição? E contracepção?
6- Qual participação e interferência do Estado nos direitos de reprodução feminina?
7- Na pesquisa percebemos presença cada vez mais crescente de uma configuração cristã na política nacional, quais principais estratégias desse seguimento para travar lutas e reivindicações históricas dos movimentos feministas sobre a reprodução humana?

            A metodologia para o tema Políticas de atenção as mulheres e a interferência do estado nos direitos de reprodução feminina: convergências e diferenças regionais revelou a multidisciplinaridade necessária para pesquisa. Pontua-se que as diversas instâncias políticas que discutem o tema hoje são oriundas de um processo importante de lutas e reivindicações, inclusive surgimento e organização de movimentos sociais feministas no meio acadêmico. Observamos ao longo do levantamento bibliográfico que as questões debatidas pelas mulheres dizem respeito a sua saúde de forma integral e não somente no período de reprodução e durante a gravidez, quando, no geral, recebem um pouco mais de atenção. Dessa forma, a política a ser investigada é um marco para as mulheres, representando importante conquista. Entretanto, cabe no trabalho investigativo acadêmico, avaliar de forma imparcial as ações implantadas pela PNAISM.
            Coelho (2008) diz que “desde o início dos anos 80 a atenção integral à saúde da mulher é compreendida como promoção, proteção e recuperação dos corpos femininos, durante todo o ciclo vital, incluindo o período reprodutivo e gestacional.” (p.59). Na prática “grande parte da população feminina só é objeto de algum cuidado de saúde quando está no período gravídico puerperal.” (p.59). Duas são as características: “intensiva medicalização do parto, o que o torna muito rentável para o complexo médico-industrial-hospitalar”; os “cuidados destinados ao feto e ao recém-nascido”. (idem, ibidem, p.59). Por isso, na tese será preciso tecer questões sobre gênero feminino, campo social que vem sendo consolidado na academia desde os anos 1980.
            Na Universidade Federal Fluminense (UFF) temos grupos de pesquisas e a Revista Gênero (Melo, 2013, p.605), que faz parte hoje da Pós-graduação em Política Social na Faculdade de Serviço Social, que estão ajudando nessa fase de exploração bibliográfica da pesquisa. Outras revistas (idem ibidem, p.610): “Pagu/Unicamp, Caderno Espaço Feminino/Universidade Federal de Uberlândia e a própria Revista Estudos Feministas (REF), com sua trajetória da Universidade Federal do Rio de Janeiro para a Universidade Federal de Santa Catarina” também estão sendo importantes nessa etapa.
            Ainda como referência teórico-metodológica temos o recente trabalho de Kornijezuk (2015) abordando análises do PAISM e da PNAISM, fornecendo bases para construção da tese. O estudo de mestrado apresenta seguinte sumário:
2. O corpo e a sociedade; 2.1 A pílula anticoncepcional, os acordos internacionais e a política de planejamento familiar; 2.2 Movimento feminista e de mulheres, direitos sexuais e reprodutivos, espaço privado e público; 3. Desfecho da política de gênero: a criação do PNAISM; 3.1. Influência do conceito médico e experiência da UNICAMP; 3.1.2 Reforma Sanitarista e a Constituição de 88; 3.2 Mudanças e permanência entre PAISM e PNAISM; 3.2.1 Programa de Atenção integral à Saúde da mulher: bases de ação pragmática; 3.2.2 PNAISM – Plano de Atenção integral à Saúde da mulher: princípios e diretrizes 2004. 3.3 Envelhecimento, Menopausa e climatério no PAISM e 3.4 PNAISM: Expansão e Continuidade da política.
           
            Há diferenças na questão a se inquirir e em algumas fases de aquisição de dados, a saber: 1- Interesse por convergências e diferenças entre as regiões do Brasil, mesmo com o PAISM e a PNAISM como norteadores; 2- Foco na interferência do Estado na reprodução feminina (o referido estudo aborda climatério/menopausa); 3- Análise das estratégias dos segmentos cristãos na esfera pública e arena política.  O projeto de tese se baseia no referido estudo, pensando a estrutura teórica e formato acadêmico, exploratório e descritivo, ampliando questões, e centralizando outros enfoques, diferenciando o esforço, ampliando a discussão teórica e contribuindo para o campo.

CONSIDERAÇÕES

            Ao iniciar o texto, apontamos o caráter inicial do estudo, e, consequentemente, a ausência de conclusões específicas acerca do campo investigativo. Neste sentido, o esforço aqui empreendido foi o de informar a comunidade acadêmica sobre a existência do estudo. As questões, como apresentadas, demonstram o quão complexo é o campo da Política Social. Há um universo enorme de pesquisas e necessidades político-sociais, que, como ditas, se associam as questões necessariamente do sistema socioeconômico.

            No caso do capitalismo, como sistema consolidado nas sociedades contemporâneas, mesmo que controverso, a Política Social vem para suprir a ausência de igualdades de direitos. Neste sentido, o presente estudo tem compromisso com questões de direitos humanos, com recorte de gênero feminino, dando suporte as questões feministas que são fruto de reivindicações históricas. As conquistas são múltiplas, inclusive a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher (PNAISM) é reflexo, como dito no trabalho, de uma luta empreendida por movimentos feministas ao longo das últimas cinco décadas.

            Apontamos que as questões da pesquisa são reflexo do contexto da redemocratização política, neste ponto a constituição nacional de 1988 atua diretamente para as conquistas. Entretanto, cabe no estudo, entender as diferenças e convergências regionais de acordo com mapeamento a ser aplicado nas instâncias políticas selecionadas para pesquisa. Há necessidade de complexo arcabouço teórico a se investigar. Os teóricos e grupos de pesquisas apontados, afirmam que, apesar das conquistas, há muito para ser discutido. Inclusive, cada vez mais, há pressão social para mudanças de compreensão sobre questões específicas para as mulheres, considerando o patriarcado como fundante da sociedade brasileira.

            Ao longo dos próximos três anos (2017, 2018 e 2019) vamos dedicar esforço para entender questões de gênero; que se associam com históricas opressões e relatos de violências contra as mulheres; tanto morais, como principalmente sexuais. É este o ponto dos direitos reprodutivos que nos interessa. O direito humano de defesa ao corpo feminino e decisão sobre autonomia de escolhas. Para isso vamos desvelar o fortalecimento da participação civil na formulação e implantação de políticas públicas específicas para as mulheres, dando relevância para as estratégias de ações efetivas no campo da Política Social através de um sistema avaliativo analítico-crítico acerca da PNAISM.

 

REFERÊNCIAS
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COELHO, Clair Castilhos. Saúde da mulher e o controle social no Brasil em tempos de neoliberalismo. R. Saúde públ. Santa Cat., Florianópolis, Santa Catarina, Brasil, v. 1, n. 1, jan./jun. 2008.
COSTA, Suely Gomes. Movimentos feministas, feminismos. Estudos feministas, Florianópolis, 12(n.e.): 264, setembro-dezembro/2004.
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CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL (5 de outubro de 1988). São Paulo, Editora Atlas, 1998. v. 1, p. 133.

ANEXO 1

APÓS PRIMEIRA CONVERSA POR TELEFONE COM A CONDIM (19/10/2016)

         Estava relendo o artigo (por volta das 15h...), com base na minha proposta de tese em política social, quando recebo a ligação da Codim. Foi um papo interessante com Monica Bastos, que apresentou os fundamentos da Codim, com ênfase no rompimento do círculo de violência e como a instituição em si poderia ajudar na pesquisa.
Acredito que estaremos construindo arcabouço teórico paralelo com a pesquisa no campo prático. Estou interessado em construir um sistema avaliativo analítico-crítico a respeito de uma política nacional, portanto, tenho como amostragem inicial 5 instituições (coordenadorias e/ou secretarias), uma em cada região do país. Isso foi apresentado no artigo que representa um informe a comunidade acadêmica a respeito da pesquisa.
         Acertamos com a Codim (Niterói-RJ/Região Sudeste), que vamos conversar sobre a instituição, o campo de políticas públicas para as mulheres, e eu, na minha tese, escolhi uma política específica para aprofundar avaliação. Não queremos, eu, a Instituição que o estudo está vinculado e os docentes dela, construir juízos de valores morais dentro da análise crítica. No entanto, cada estudo e os agentes envolvidos, carregam em si, marcas e contextos.
         O estudo é dirigido para as pessoas envolvidas em movimentos feministas, sociais em geral, políticos, culturais, artísticos, comunidade acadêmica, pessoas que se interessam por políticas públicas e participação civil nas decisões coletivas. Nele pretendemos apresentar características de questões históricas-sociais que permeiam o campo de Políticas públicas; Gênero; interferência do Estado na reprodução feminina.
         [Nota importante] Durante a conversa solicitei autorização para dar continuidade na pesquisa utilizando o nome da Codim e falei que preferencialmente faço entrevistas filmadas com base em perguntas semi-estruturadas. Para tese elaborei 7, que constam no artigo.

Cordialmente,

Lucas Leal






[1] Citamos como descontinuidades a extinção do recente ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, criado a partir da unificação das secretarias de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, de Direitos Humanos, e de Políticas para as Mulheres, Medida Provisória nº 696 no Senado (out. de 2015), alterando Lei nº 10.683 de 28 de maio de 2013. Extinto em 12/05/2016. Os temas referentes à antiga pasta serão agora discutidos no âmbito do Ministério da Justiça e Cidadania.
[11] Nota: BEM-ESTAR FAMILIAR NO BRASIL, fundada em 1965. Tem status consultivo especial junto ao Conselho Econômico e Social da ONU. Desde 1967, é filiada à Federação Internacional de Planejamento Familiar (IPPF).
[13] Grifos meus, acima utilizei seguimentos cristãos, a autora utiliza neste momento bancada evangélica.
[14] Nota minha: Sob a autoria dos deputados Luiz Bassuma (na época filiado ao PT, atualmente ao PV) e Miguel Martini (PHS), o Projeto de Lei nº 478/2007 que aguarda parecer pode ser acessado: http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra?codteor=443584
[20] Frente Parlamentar Evangélica (idem, ibidem, p.5).



CAPA E CONTRA CAPA DO LIVRO COM OS ARTIGOS