sábado, 29 de outubro de 2016

Quantas coisas boas você falou de alguém hoje?


Mochila e joelheiras (acabei de achar em uma lixeira em Santa Rosa - Niterói-RJ)


               A pergunta que dá o título desse post foi dita pelo professor André Brandão durante uma aula lá no doutorado na UFF e ficou na minha cabeça. Estávamos falando de um autor que apresentei como seminário (Olson Mancur em A lógica da ação coletiva), que nos faz perceber que as pessoas agem por interesses comuns, mas, priorizando os interesses individuais (isso quando ações individuais). Mas para o autor, em grupos de interesses comuns, mesmo que todos agindo por interesses individuais que seria bom para o grupo, isso não ocorre, nem se for para conquista de um bem comum (parece confuso, e é, mas tem argumentos). Dentro dos argumentos, algo me chamou atenção, que é o fato de que, se eu percebo que não agindo terei o mesmo benefício de quem está agindo, e para Olson isso funciona principalmente em grupos grandes, é preciso coerção (como os impostos, por exemplo, ninguém gostaria de pagar, mas pagamos porque é obrigado, e com eles temos os “benefícios coletivos”).
Mas na verdade não quero ficar me dedicando muito na parte acadêmica. Texto passado (não publicado) eu fiz a mesma coisa e vou tentar evitar neste.  Mas resumindo, só agimos em grupos grandes para um bem coletivo através de coerção... quero chegar AGORA na questão dos grupos pequenos... para o autor (infelizmente é mais forte do que eu), em grupos pequenos a participação é mais percebida, portanto, é mais fácil todos os membros do grupo participarem conforme combinado (caso não, é mais fácil identificar e até excluir o membro)... sabemos que na prática não é  bem assim. E durante as falas em sala, comentando diversos assuntos sobre organizações em grupos, chegamos a conclusão que no nosso país não temos confiança suficiente no outro (capital social, que diz respeito a democracia e confiança recíproca, ver Putnam). Vou falar  da nossa realidade. O velho jeitinho brasileiro... as formas de burlar as regras, os combinados... os jogos políticos e de interesses...
... somos então levados a pensar que para termos algo competimos com todos, ao contrário de compartilharmos. Acreditando que, quanto mais acumular, bens, propriedades, coisas materiais, mais bem sucedidos a sociedade considerará, grande parte dos sujeitos vão agindo individualmente, e em grupos pequenos de interesses, onde as relações se estabelecem pelos benefícios econômicos que determinado grupo possibilita... e vamos querendo agrupar cada vez mais benefícios, dispondo cada vez menos de recursos, ou, ganhando mais recursos, gastamos até mais com benefícios, mas buscando a ampliação do bem estar, entretanto, antes, o bem estar econômico.  Se as somas dos ganhos são de números tão expressivos, começamos também a contratar serviços de outros indivíduos, hierarquizando e até subjugando pessoas de acordo com sua posição na estratificação social. Uma sociedade que necessita das divisões e subdivisões de sujeitos a partir da sua ocupação espacial, das disposições dos seus corpos, das cores das suas peles, das escolhas religiosas, das necessidades particulares de orientação inclusive sexual... por fim, de uma sociedade que nos possibilita estarmos livres numa prisão de valores e condicionamentos, de regras... e vamos criando nossas disputas e compartilhamentos (afinal, já falamos bem de alguém hoje? Quantas coisas boas falamos de alguém hoje?).
Então, diferente de outras teorias sociais que citei, entre outras tantas que existem, a minha hoje não precisa de muitas páginas escritas. Eu nem concordo com os autores citados nesse texto, em bem da verdade, preciso dizer que muitas leituras que fazemos, principalmente sobre sociedade (ou melhor, outras sociedades, pois nenhum autor citado trata da realidade brasileira), vão nos trazer concepções e até propostas, mas não precisamos acreditar nelas, muito menos ter como uma bíblia a seguir. Minha tese social vai ser pensar positivamente sobre cada pessoa e situação que eu passar. Como conseguir isso? Ainda estou estudando... mas é isso... vou tentar pensar nessa pergunta todo instante: “Quantas coisas boas você falou de alguém hoje?”

Posso estruturar também algumas hipóteses: Por que falamos mais mal das pessoas do que bem? Vem da competição que nos ensinam para vencer economicamente? Ser melhor que alguém a qualquer custo é ser bem sucedido? Acumular bens, propriedades e capital é nossa função na vida?

*Como eu não ligo muito para ser bem sucedido nos termos citados, não me vejo nesse mundo tão competitivo, mas claro, sempre que faço alguma seleção, tento fazer a minha parte para ser o primeiro, infelizmente o sistema para nos sustentar é assim (queria muito que não...). Não acredito que para ser primeiro eu precise pensar negativamente para o outro, embora já o faça indiretamente. E lógico, não acredito em meritocracia, o que dificulta muito eu achar que minhas conquistas particulares foram somente do meu esforço, e por outro lado, me faz sempre querer mais... enfim... “Quantas coisas boas vou falar de alguém hoje?”

Bjocas
Lucas Leal
                

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