quinta-feira, 29 de março de 2018

Hoje “tive folga”





                Comecei desde cedo o dia, queria aproveitar minha folga. Lancei notas. Li e corrigi trabalhos. Fiz atividades do curso de Pedagogia. Selecionei artigos para estudar. Pensei um pouco sobre minha vida artística. Ajeitei minha cabeça para aproveitar o dia, sair um pouco. Almocei e li uns textos. E finalmente fui aproveitar o dia. Uma pausa para um cochilo. Adormeci. Acordei já era noite. Agora pensei: Essa foi minha folga? Aproveitei meu dia sem trabalho para trabalhar? Decidi aceitar que não tenho folga, que não consigo parar no meio da semana por simplesmente estar envolvido em muitas atividades. E assim tem sido minha vida. E nada de prazer ou lazer? Como um artista, professor de teatro, de agente cultural e no curso de lazer não consegue ter lazer e prazer?  Ou será que sinto prazer em não ter lazer? Ou meu lazer é não ter prazer? E fiquei aqui refletindo mentalmente sobre nunca mais ter postado no blog... que precisava escrever alguma coisa... e pensei: O que preciso escrever? E ai me veio na cabeça que talvez eu não tenha muito que escrever porque não tenho vivido o que me dava prazer, que era justamente ter algo que escrever... Então resolvi escrever o dia de hoje. Minha folga do trabalho, que foi trabalhando. Imaginei todos os professores que se dedicam muito mais do que eu nas atividades de ensino-aprendizagem e fiquei achando que talvez eu não devesse mais ensinar porque fico muito cansado para ter prazer em escrever, que de fato para mim é um eterno lazer... fico feliz quando escrevo. E quando ensino, só falo... escuto, vejo filmes e ouvimos músicas também... mas o ensino é majoritariamente falado. E eu gosto de escrever. Principalmente sobre o que sinto. E sinto que não tenho tido tempo de sentir nada, porque preciso estar para lá e para cá, falando e escutando... mas daí fui refletindo também sobre tudo que tenho feito como professor este ano... tentando passar um pouco da minha experiência artística e cultural... e lembrei que viajei muito... estive em muitos lugares e sempre pensando que poderia mais, que deveria fazer diferente do que estava fazendo no momento, que nada estava como eu queria... e fiquei pensando que nunca estou no lugar que estou de fato... porque eu sempre quero estar em um local diferente do que estou. E o que isso significa? Eu não consigo viver? Eu não consigo estar em cada lugar que estou? Que tipo de sujeito sou eu que estou ali pensando estar em outro lugar? Que lugar eu gostaria de estar agora, se agora estou escrevendo e acabei de dizer que o que mais gosto de fazer é escrever? Será que eu queria estar escrevendo sobre meu desejo de escrever e que não tenho conseguido fazer isso porque estou fazendo outras coisas que também não sei se faço bem? Será que vivo então um estado de “não ser”? Quem sou eu? O que gosto realmente de fazer? Acredito que todo mundo passa um pouco por isso em sua vida. Questiona-se sobre o que gosta ou que não gosta. Faz coisas que não gosta para ter tempo de fazer aquilo que gosta. Alguns, ou a grande maioria, não consegue fazer aquilo que gosta, infelizmente. Outros acham que gostam de coisas que nunca poderão fazer pelo simplesmente fato de ser inalcançável. Talvez eu seja uma delas. Queria viver viajando e morando aqui e ali, a cada instante em uma cidade diferente, e em algum tempo eu consegui fazer isso, mas não como idealizei... sem compromissos, sem prazos, sem ter que voltar... sem ter que partir... e vocês podem estar se perguntando por que eu simplesmente não vou e faço isso... Talvez por medo? Ou estou preso ao sistema? Ou não tenho certeza se quero isso de verdade? Algumas vezes já pensei que gostaria de estar em apenas um lugar, tranquilo, com alguma companheira, com filhos... e sem compromissos com horários e datas (mas, filhos, companheira, não são compromissos?). Um sítio no meio do nada. Seria isso inconsequente? Medo de encarar a vida? Desejo de adolescente? Será que não tenho coragem de enfrentar as necessidades diárias como todo mundo faz? Não sei explicar... mas a vida tem sido um desafio que não me neguei enfrentar, ao mesmo tempo em que acredito não ter conseguido vencer, simplesmente porque não aceito o que vivo e como vivo... e uma frase tem ficado na cabeça, talvez para eu aceitar... “viver é como correr contra o vento”...
“viver é como correr contra o...”
”viver é como correr contra...”
“viver é como correr...”...
“viver é como...”
“viver é...”
“viver”!

Hoje eu tive folga e resolvi escrever!
Beijocas veganas
Lucas Leal