sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Explicando publicamente o meu trabalho artístico: A história sobre a história dos personagens que faço pensando no filme/teatro inacabável!!

Explicando publicamente o meu trabalho artístico

Hoje finalmente consegui terminar  revisão da monografia e gosto muito do que fiz durante o curso de Bacharelado em Artes Cênicas com Habilitação em Teoria do Teatro. Independente das dificuldades e da minha incapacidade artística em dialogar com o público em geral, hoje acredito muito no valor de tudo que experimentei enquanto PerforMAN. 


PARA VER OUTRAS COISAS:

A história sobre a história dos personagens que faço pensando no filme/teatro inacabável (TÓPICO QUE COMEÇO ABORDAR NA PÁG. 132 DO TEXTO MONOGRÁFICO)
            Um dia Gonzalez teve um sonho (2004), que podia reviver a história de alguém que viveu a história de alguém por 10 anos. E assim foi vivendo... ele só poderia contar a história sobre a história depois desses 10 anos. Tem feito isso faz 1 ano... e talvez o faça por mais 9. Então temos 10 anos + 10 anos + 10 anos + 10 anos, de uma história que nem sabemos se é real...
            Para tentar explicar meu projeto, elaborei vários outros projetos... mas só consegui condensar quando de fato resolvi transformar um perfil particular no facebook em fanpage, intitulando-me como personagem de um filme (interpretando Gonzalez, que interpreta o palhaço Low, que interpreta outros personagens...)
            Uma coisa que o facebook tem, que as vezes atrapalhava minha produção, é bloquear você se ficar “adicionando pessoas que não conhece”. Então criei outro perfil, e depois outro. Pois ficar 30 dias ou até 60, sem poder add pessoas novas, o que implica não poder mandar inbox (mensagens privadas) para ”desconhecidos”. E os artistas novos que sempre precisamos adicionar antes de cada evento/apresentação? E foi assim que começou uma saga interessante... ter mais de um perfil, foi o mesmo de perceber que tenho mais de uma personalidade, e que poderia separar, amigos de Pernambuco, perfil para qualquer pessoa, principalmente da área artística, e outro para ter as pessoas que mais falo, e/ou que “conheço ao vivo”.
            Então, em um espaço curto de tempo, me vi com 3 perfis, e nenhuma separação como a princípio pensei. E comecei a perceber que em cada um, mesmo sendo eu, ao mudar o endereço de acesso a ele, eu me sentia outra pessoa. A separação de pessoas que não consegui fazer inicialmente só foi possível quando ano passado decidi que dois perfis eram “fakes” de mim mesmo, ou melhor, “atores online”. Um eu quase não usava, e é nele que se encontra a maioria das pessoas de Pernambuco. Com o outro comecei a adicionar qualquer pessoa que o facebook me indicava, e sempre que se faz isso, o face continua indicando mais gente, e você começa a fazer parte de algum “clã”, ou seja, fica com muitos amigos em comum com várias pessoas, que mesmo desconhecidas, acabam achando que te conhecem. E foi assim que um perfil meu ficou cheio de pessoas de São Paulo, em grande parte artistas e pessoas do meio.
            Bem, para não alongar mais a história sobre a história, em 2015  consegui me organizar para condensar meus trabalhos artísticos em um espaço só, o Blog: http://nemculturanemnepotismo.blogspot.com.br . Criei um calendário para lançar postagens sobre meus trabalhos, sexta sim, sexta não, desde a sexta 13/03/2015 (SEXTA FEIRA 13... UUUHHHU). Além disso, tenho estruturado meus trabalhos, sempre que possível, em forma de Fanpage, pois facilita falar sobre ele, mesmo que tenham poucas curtidas e eu não consiga manter todas as páginas ativas.
            Sempre nos eventos coloco as páginas na descrição e consigo novos interessados no meu trabalho. É um trabalho de formiguinha, de ator, diretor e produtor online, com poucos recursos, muita imaginação e quase nenhum apoio comercial. O que ainda me sustenta estar produzindo arte, é perceber que, estruturando os projetos, posso sempre falar deles, e dar aulas sobre estéticas, utilizando-os como exemplos (mesmo os que não funcionaram muito bem). E é dessa forma que tenho percebido o valor da minha arte, que por ser tão efêmera, às vezes me sentia incompreendido, e por vezes “nem me sentia artista”, uma vez que quase não participo de testes e/ou produções comerciais/globais/midiáticas, minhas produção independente é a única forma que tenho produzido cultura e arte, mesmo quando professor em alguma instituição. 
            Após estruturar minhas ideias artísticas, percebi o intuito dos “atores online”, ou “fakes de mim mesmo”, e tomei a decisão de transformar o perfil que tinham mais pessoas da área (artística), pois era também o que mais tinha “amigos”, em fanpage com meu nome mesmo, Lucas Leal[1], mudando somente o endereço de https://www.facebook.com/Lucaspulonasartes para https://www.facebook.com/LucasLealPerforMAN. Abaixo a descrição dele e depois começarei a criar a história com base na história dos 10 personagens que consegui “reviver” a partir do meu trabalho como ator perforMAN.

Descrição curta:
Faço um filme inacabável, gravando e exibindo, ao vivo e online, fragmentos de uma história que nem sei se existe.

Descrição Longa:
Faz 6 anos que gravo um filme sem fim. 
Grande parte da iniciativa diz respeito a minha vontade de ser (artista).
Outra parte, principalmente a do "não ter fim", se relaciona com o fato de ser artista independente, nunca tive alguém/empresa que acreditasse no projeto para ajudar a finalizar.

Pela vontade de ser, juntando a coragem de tentar, e o desejo de conseguir, não parei de gravar, mas senti necessidade de expor.

E foi assim que comecei a fazer o "filme ao vivo" (uma espécie de teatro cinematográfico). Iniciei a fase de projetar fragmentos do filme durante meus eventos festivos na UNIRIO (o Baile à Fantasia Chapeleiro Maluco e depois o Mundo Mágico de OZ).

Nas exibições muita gente vinha perguntar sobre as imagens, onde poderiam ver (se tinha na internet). E as respostas eram: "não sei", "acho que não", "só eu tenho as imagens"...

A cada novo evento, novas pessoas vinham fazer a mesma pergunta... então comecei a pensar em fazer o "filme ao vivo e online".

Iniciei abrindo um evento no facebook, dando nome ao filme: “Da Lama ao caos: em busca da humildade” e depois comecei a publicar fragmentos "do filme", que deveria ser "editado pelo próprio público"; e era/é editado por mim "ao vivo" e claro, "online".

Sempre que a data do evento chegava perto de acontecer, eu adiava (já que a ideia era ser um filme inacabável)... e fiz isso por mais de ano... até abrir outro evento/filme/performance/teatro online, dando outro nome: “El viaje del payaso”, mas, seguindo a mesma linha (utilizando imagens novas, já feitas para isso, e instruía que cada um deveria editar e escolher a trilha sonora, mesmo indicando algumas músicas).

Percebi, com a segunda versão, que ficar adiando o evento é "um saco", e ganhar público novo em evento é mais complicado... 

Daí pensei em realmente "acabar" o filme. Gravamos, e, novamente, não acabamos. Não consegui ver como “pronto”. Talvez não seja para finalizar.

Eu quis juntar nessas novas gravações fragmentos de outras gravações, e sempre sentia necessidade de construir fragmentos com novas gravações... assim o filme voltou a "não ter fim", apesar de ter características de obra artística com fim (inclusive com release e a Fanpage).

Conformado com minha saga de artista cinematográfico realizador de uma obra sem fim abri mais uma fanpage, com base em um personagem/carro, o fusca "69", e comecei a usar somente o celular para gravar minha relação com meu duplo... que na teoria é um Cine-Circo itinerante, e na prática, ainda estamos comprando material para isso funcionar melhor. Por enquanto estou criando a história e me relacionando com ele[5]. 

Assim percebi que o Fusca, os filmes, eventos, outros projetos, ideias, propostas, faziam parte da minha pesquisa em compreender minha própria criatividade/comunicabilidade/existência... e por isso comecei, sem medo, a colocar para circular "as imagens do filme inacabável" (ou inacabado?)...

... Encontro-me hoje fazendo estudos estéticos sobre os processos cênicos desses "blocos prontos"[6] (mesmo alguns com erros e/ou falhas de edição) e dos fragmentos ainda "em fase de não edição"[7] que também entram nas exibições ao vivo.

O filme não tem fim, pois a história toma como base minha relação particular com a vida, ou seja, uma pesquisa autobiográfica, com o tempo: Passado (infanto-juvenil); presente (o agora, o que faço, penso e publico...) com meu futuro (o que vou fazer com essa obra sem fim...).

Rompo com tempo-espaço, revivendo a cada novo evento, os eventos passados, e projetando novas ideias (adiantando o futuro), no instante em que faço (presente).

Exponho partes da minha vida particular, que envolve amigos da infância/juventude, e fragmentos de registros do meu existir, junto com  atividades artísticas... dialogando sempre na perspectiva de arte e política no contexto dos contos de fadas (Contos clássicos reinterpretados: Alice no país das Maravilhas; O mágico de Oz; relembrando desenhos e animes que fizeram parte da minha infância, como Dragon Ball Z, Cavaleiros do Zodíaco; Doug Funny e o Homem Codorna; Capitão Planeta; X-Men e Super Campeões). 

A pesquisa toma como base alguns livros e/ou textos (A Bíblia; Textos e novelas para nada de Samuel Beckett; Sobre Verdades e Mentiras no Sentido Extra-moral de F. Nietzsche; A crítica da Razão Pura de Kant; entre outras leituras é claro); meus diários de 2009 até 2015 (que faz parte da " minha viagem maluca").

Gravei cenas em Pernambuco; Rio de Janeiro; São Paulo; Curitiba; Florianópolis; Porto Alegre; Uruguai; Argentina; Paraguai; Paraná; São Gonçalo; Bolívia; Peru; Ecuador; Colômbia; Venezuela; Boa Vista; Cariri; Espírito Santo; Bahia... 

Em cada cidade, em cada cena, em cada gravação, tive o prazer de reaprender a ser quem sou, de entender o que quero, e de buscar concretizar meu sonho de ser (eu).

"Não é/foi fácil ser eu..." 
"Não tem sido tranquilo..."
"Mas vivi muito, me diverti bastante, lutei demais, amei mais ainda, e chorei... mas, o que mais fiz... foi rezar..."
"Rezo todo dia para concluir o filme inacabado que hoje está intitulado de 4 Ladeiras e 70 Degraus".

Meu filme sem fim, conta uma história que escrevi em 2004, sobre mim. Uma busca por mim mesmo. 

No filme me chamo Gonzalez, um Uruguaio que interpreta o palhaço Low, que veio ao Brasil de Férias e passou 6 anos em Olinda-PE. Depois chegou ao Rio de Janeiro, onde viveu 6 anos, tendo morado em 18 lugares, fundando a banda que não existe (SaulomBRA Sound System), virando “sucesso” na Favela Vila Parque da Cidade (Gávea-RJ) e atualmente em turnê online[8].

Ao exibir o filme sem fim, edito as imagens na hora, e costumo gravar novas cenas, geralmente com base no evento/local onde estou "intervindo" artisticamente. É por isso um cinema/teatro/performance que acontece “ao vivo e online”.

Na minha filosofia sobre Gonzalez, acredito que ele se encontra em um paradoxo infernal. Ele viveu 10 anos uma vida de alguém que viveu 10 anos a vida de outro sujeito, que fez isso no intuito de mostrar sua capacidade de dominar o outro a partir do poder econômico (pois financia as ações dos dois outros que viveram/vivem sua vida, financiando também a vida de Gonzalez).

É, portanto, um desafio de "não ser", ser Gonzalez, na medida em que ele interpreta quem "não é", com base na história de outro, que viveu também a experiência de "não ser" por 10 anos...
Quem é você nessa história toda? Quem é o Lucas Leal? O que quero com esse filme sem fim? O que quero mostrar para vocês? Qual a moral da história? Qual é mesmo a história?

A HISTÓRIA DE GONZALEZ SOBRE SEUS PERSONAGENS:
            Gonzalez é um Uruguaio que vive em 2015 a possibilidade de falar sobre uma história que viveu 10 anos sem poder falar. Tratava-se de um desafio, “viver 10 anos a vida de alguém que viveu a vida de outra pessoa por 10 anos”, recebendo financiamento, tendo ações planejadas e dirigidas por outro (o que torna ele um ator da vida real), sem poder falar que está interpretando (que remete a técnica do teatro invisível).
            Foi assim que ele começou a interpretar o Low, um palhaço que perdeu seu filho antes dele nascer, mas não consegue falar nisso. Ele passa de cidade em cidade, no mundo inteiro, conhecendo crianças e pessoas, tentando reencontrar o seu filho (Pepe), mas, enquanto isso não acontece, ele diverte as pessoas revivendo personagens da sua infância. Esses personagens, ao serem revividos, ajudam Low no diálogo/comunicação com o público (adulto), que, ao identificar-se, cria uma atmosfera fantasiosa, entra “no clima”, revivem outros personagens de suas infâncias, e dialogam com as crianças. Low acredita que dessa forma seu filho poderá aparecer, ao identificar-se com alguma personagem revivida por ele ou algum outro adulto. 
            O primeiro personagem que Low reviveu, fez parte da minha juventude, o Chapeleiro Maluco, do conto Alice no país das Maravilhas. Um sujeito que estava aprisionado sempre as 6 horas da tarde, no dia do seu desaniversário (todo dia que não é seu aniversário), porque estava brigando com o tempo porque o tempo passava muito rápido. Low se viu nele, pois percebia que a cada dia que passava seu filho estaria diferente e poderia estar em outro lugar. E o tempo foi se passando e Low não achava Pepe, seu filho, e foi brigando com o tempo... e ficou aprisionado como Chapeleiro Maluco por 4 anos (2011,2012,2013 e 2014), mas, não achou seu filho... 
            Percebendo que as frases malucas proferidas enquanto Chapeleiro estavam sendo interpretadas mais insanamente ainda, Gonzalez decidiu regredir da juventude para infância, encontrando no Mágico de Oz o personagem Homem de Lata, que já vivera quando criança na escola. Para Low se desvincular do Chapeleiro Maluco, no entanto, após 4 anos e 7 edições de evento festivo, não foi fácil. No último evento houve iniciativa, inclusive buscando outro ator (Rafael Vitti) para se transformar em Chapeleiro Maluco, uma espécie de “passagem de bastão”.
            O evento foi muito conturbado e ficou impossível cumprir a “passagem de bastão”... Gonzalez convocou Low, que convocou o Chapeleiro Maluco, que começou a transição para Homem de Lata (inclusive cortando o cabelo e entregando ao público, e claro, ao “novo Chapeleiro Maluco”, o Rafael Vitti); mas, ficamos com pouco tempo. Não consegui transformar o Chapeleiro em Homem de Lata, nem transformar o Vitti em Novo Chapeleiro Maluco. Ficou, nosso Heroi, em estado de Chapeleiro de Lata.
            Após esse breve ano (2014/2015), Gonzalez ganhou sua liberdade, e agora sim, após 10 anos, pode falar do seu “papel”. Comecei como dito, a divulgar o “filme”, como “obra acabada”, mesmo que ainda esteja claro o “processo em andamento”. Sendo assim é um trabalho “inconcluso”, ou melhor, inacabado (por não ter fim), que difere de inacabável (que não pretende ter um fim).
            Tenho então um conflito na pesquisa, entre inacabado e inacabável, que é alvo de discussão atual na pesquisa acadêmica, e está sendo debatido aqui no livro/monografia (que terá algum fim). É um trabalho inacabado, que partiu do intuito de ser inacabável, mas, pelo limite institucional, é OBRIGADO a ter um fim, mesmo que provisório. Acredito que a obra (o filme, o livro e a monografia) sempre será inacabada, pois não consegui ver a possibilidade de encerrar uma história que só começou a ser contada 2014/2015. Uma história sempre se transforma, principalmente quando ela “fala de uma pessoa que viveu a vida de outra pessoa por 10 anos, que viveu a vida de outra pessoa por 10 anos, sem contar para ninguém.” Há muito para revelar...
            Dentro dessa história, de pessoas que viveram outras histórias, temos dois contos clássicos sendo reinterpretados a partir de uma autobiografia (do autor da história, neste caso, autor da obra/livro/monografia, Lucas Leal). Dentro dessa reinterpretação, há outras histórias, de desenhos animados e animes, que faz parte da história do palhaço (Low) interpretado pelo personagem principal da história (Gonzalez), no intuito de ampliar o diálogo entre artista (Lucas Leal) e o público (em geral). Este que toma conhecimento direto ou indireto sobre sua obra (o filme e os eventos festivos), mesmo sem conhecer diretamente o artista, mas sim sua obra de arte (e mesmo sem considerar tudo isso como arte) é tido como fundamental para o autor.
            Por ser OBRIGADO a dar UM FIM a obra/história/filme/livro/monografia, decidi que não quero mostrar somente a LOUCURA que há em mim. Quero também apresentar todo o amor que sinto para produzir/pensar/criar/imaginar alguma atividade cultural/artística, e por isso, consegui em abril (2015) fazer a passagem do Chapeleiro de Lata para o Homem de Lata, que busca seu coração. Mas, como o trabalho é artístico, tomando como base reinterpretações de histórias e personagens, decidi convocar outras personas para tirar Gonzalez e Low do país das maravilhas, seguindo por tijolos amarelos, até a Cidade das Esmeraldas, para encontrar, o Castelo do Mágico de Oz, e consequentemente o meu (Lucas Leal) coração.
            Se a regressão partiu da juventude/adolescência para infância, com base na fase adulta, aproveitei o que mais despertou em mim nesses momentos. Em 2014, como professor substituto da FFP-UERJ (Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), ganhei um excelente desafio para o trabalho de arte e política no contexto dos contos de fadas a partir da animação cultural e do movimento cineclubista (atividade proposta por mim para turma de Educação, artes e Ludicidade II).
            Ao propor aula na biblioteca (por conta dos equipamentos de audiovisual), não sabia que incomodaria uma aluna (cadeirante), pois ainda não sabia da sua existência na turma. A biblioteca fica dois lances de escada mais alto do que a sala, que já fica no segundo andar, e por conta disso, mesmo indo buscar a aluna no ponto de ônibus, a vi chorando e me “xingando” sem parar.
            Então tive, por impulso, a ideia de perguntar: “Você tem outra cadeira de rodas”? E ela prontamente disse que sim e perguntou “por que”? Respondi afirmando: Você pode trazer semana que vem? Eu passarei o dia inteiro lecionando de cadeiras de roda, para mostrar os problemas de acessibilidade na Instituição. Então veio aquele silêncio em sala, ela emocionada falou, “tudo bem, alguém pode trazer?”. Um aluno da turma, Fábio Farias, disse que sim, na semana seguinte, mesmo chegando um pouco atrasado, ele levou, e fizemos gravações na Ffp-Uerj.
            Participei naquele dia, como cadeirante, de um conselho extraordinário junto com outros docentes e a direção da unidade.  Eu tinha sido informado que o conselho era para isso, entretanto, na hora, vi que não. Era para discutir festas no campus, pois tinham feito uma festa sem autorização. Além de tudo, o tema era muito parecido com o que discutia na UNIRIO, e claro, defendi o ponto de acessibilidade em minha fala, mas deixei claro, como todos já sabiam que minha pesquisa é com FESTA E ARTE, e, portanto, era a favor da liberação. Eu estava consciente dos problemas que as festas, sem policiamento ou seguranças, podem trazer, o que implica organização e comprometimento dos proponentes.
            Foi burburinho para cá, burburinho para lá, direção da unidade revoltada, chefia do departamento de educação (onde eu era locado até janeiro de 2015) falando que sou muito performático (e os artistas existem para quê?) e narcisista (e uma pesquisa em artes com base em minha autobiografia seria diferente? Não... pois fala do meu eu sim. Mesmo que um eu construído em coletividade e a partir de outras personalidades já existentes e criadas por outros, ou seja, as personagens que revivo). E, por conta da repercussão negativa (entre alguns docentes e direção da escola) da minha atitude como docente, e positiva (entre alguns docentes e principalmente entre os discentes), a turma fez uma surpresa. Apareceram, na aula seguinte, com o tema artístico da turma (a série A-Mem), com base no trabalho que eu estava fazendo com eles, já com DVD pronto (usando imagens gravadas comigo), com episódio criado[9] e uma nova persona para mim (Professor Xavier: “Sentindo na pele”.).

Capa e contra capa do referido DVD

Link da série no Facebook’: https://www.facebook.com/SerieAmem

            Foi assim que surgiu o Professor Xavier, dos X-Mens, depois vou colocar o plano de atividades (parte teórica do trabalho que deu impulso ao surgimento da ideia), por agora o foco são os personagens, já que a ideia em si vem sendo discutida no livro/monografia como um todo. Interessante, no entanto, pontuar algumas questões: O X = que vem de mutantes virou A = de Acessibilidade; e MEN (homem em inglês, apesar de terem mulheres mutantes também) virou MEM (A-MEM, de amor, e de religiosidade AMÉM ou AMEM). E eu, como professor deles, virei o telepata da história em quadrinhos, Tv e Cinema X-Men; para Gonzalez, foi o mesmo dele “ler o pensamento dos outros”, “comprando uma briga real” e em busca da práxis autêntica, quando se modifica realmente uma realidade de opressão. Os discentes se sentiram confortáveis e guiados por alguém que “falava a mesma língua” e se “interessava pela mesma causa” (de Acessibilidade, problema enfrentado pela turma, por conta da colega cadeirante).
            Mesmo alguns não conseguindo se travestir em outra persona (ou mutante), após esse estímulo lúdico, alguns conseguiram perceber a importância “da união dos nossos poderes” para uma luta política, mesmo que a partir do brincar e da arte.  Alguns preferiram ficar na parte de fotografia, outros fizeram poesias, e alguns apenas relataram o desenvolvimento coletivo, sem, no entanto, participar como “A-mem”, ou seja, sem buscar encontrar um personagem mutante dos X-Mens e se transfigurar nele dentro da nossa releitura lúdica e política.
            Por conta disso, acredito que meu trabalho é, antes de tudo, livre, e busco a não imposição, mesmo que a disciplina seja obrigatória para o curso de Pedagogia na FFP-UERJ. Participa quem quer, como quer, e busca em si, a partir dos meus estímulos, sua participação ou não participação (que também é uma importante escolha política).
            Quando aspei “da união dos nossos poderes”, foi para dar destaque a outro personagem, que iniciei estudos em 2015, e faz parte da nova saga enfrentada pelo Low para encontrar Pepe, seu filho perdido. Para quem não conhece, a frase é dita pelo Capitão Planeta, personagem que sempre gostei (Lucas Leal), e me foi sugerido por Gustavo Cunha (estudante de ciências ambientais, que iniciou comigo o trabalho do Chapeleiro Maluco e é até hoje um colaborador ativo, mesmo quando não concorda com algumas propostas, tal como lançar Shiryu, dos Cavaleiros do Zodíaco, a prefeito do Rio de Janeiro em 2012[10] – ele acabou entendendo depois o caráter de protesto da ideia. Em 2014 lancei Shiryu a presidente do Brasil[11] e em 2015 apresentei como Novo Ministro da Educação[12]). “Vai planeta”, é dito por um grupo de jovens, que juntam seus poderes mágicos com base nos elementos da natureza (terra, fogo, vento, água e coração) para formar o Capitão Planeta. Após a combinação dos poderes dos cinco Protetores ele sempre usa sua frase introdutória "Pela união de seus poderes, eu sou o Capitão Planeta!".
            O oitavo personagem surgiu um pouco antes do Capitão Planeta, mas também está em fase de estudo, e se chama Goku, do Dragon Ball Z. Primeiro por achar muito interessante o personagem, e sempre ter gostado, e segundo por uma questão física que surgiu com o Chapeleiro Maluco, a mudança de cor do meu cabelo. Primeiramente deixei laranja, como no filme de Tim Burton (2012). Depois fui deixando mais para o amarelado (para Low e na rua tem mais efeito). Assim surgiu, entre uma brincadeira e outra com colegas e curiosos, a ideia de falar que eu estava (e estou) começando a fazer o Goku quando se transforma em Super Sayajin pela primeira vez (e seu cabelo passa de preto para amarelo, sempre arrepiado[13], como o de Low).
            Claro que, para entender, é preciso conhecer um pouco do desenho/anime Dragon Ball Z, e por isso, sua escolha. Tanto o desenho, como o personagem escolhido, é “bem visto” pelos jovens/adultos que na década de 1990, como eu (Lucas Leal), eram crianças. Há também fãs crianças na atualidade, por se tratar de um anime mundialmente conhecido, que ainda passa, e virou filme/cinema, tal como os Cavaleiros do Zodíaco (apesar de não interpretar Shiryu, ou seja, não ser uma das personas, ele faz parte de ações artísticas/políticas do projeto, como já foi citado).
            Neste sentido, como já dito também, acredito na comunicabilidade que se estabelece entre ator/diretor/obra e o público, na medida em que cada personagem que trabalho, surge no intuito de estabelecer conexões entre presente, passado e futuro, na ideia de reviver e celebrar. É como já tentei explicar em outros momentos, a construção de memórias coletivas inacabáveis (diferente de inacabadas...), por realmente não ter fim, nem pretender ter. Elas, no entanto, estão inacabadas em um breve presente (o que faz delas de certa forma acabadas), com base no passado, e são revividas em algum futuro (caso falem do projeto para seus filhos, amigos, etc...).
            Pensando em reviver outros personagens para ajudar na sua saga, Low, como ex-jogador de futebol e agora acrobata (Gonzalez), decidiu resgatar o seu ídolo da infância, o Oliver Tsubasa, de Super Campeões (outra série de anime da minha [Lucas Leal] infância). Oliver, sempre subestimado pela sua baixa estatura, vai atrás do seu sonho (de ser jogador de futebol), e, mesmo quando tudo parece que vai dar errado, ele consegue vencer. Encontrar a vitória faz parte do último salmo bíblico de Davi que trabalhei (o 143, “Após a vitória”).
            Eu (Lucas Leal) pretendia encenar uma personagem para cada salmo, quando tive a ideia de trabalhar os salmos de 1 a 143. Entretanto, conforme a pesquisa foi avançando, percebi a dificuldade de passar para o papel e estudar 143 personagens, reinterpretando um texto complexo (como a Bíblia) dentro de várias outras histórias (que já citei brevemente). Não que me julgue incapaz de fazer 143 personagens em uma única cena, entretanto, fazer a pesquisa de forma acadêmica, justificar, publicar, expor e defender (em uma monografia) pareceu “surreal” para meu momento de vida. Quem sabe noutro momento? E foi assim que surgiu a ideia de interpretar 14 personagens[14], buscando relacionar as histórias deles, com as minhas, os dose apóstolos + Jesus + Maria Madalena.
            Como fiquei (Lucas Leal) aprisionando Gonzalez e Low, como dito, por 4 anos, em apenas um outro personagem, o Chapeleiro Maluco,  na primeira prática de montagem, decidi estabelecer o número de 10 personagens, sendo 4 já interpretados antes (Gonzalez; Low; Chapeleiro Maluco; Chapeleiro de Lata); um interpretado em outro projeto com base na mesma filosofia dessa pesquisa (Professor Xavier); mais 5 novos com base nos personagens que mais gostava na infância/adolescência (Homem de Lata + Capitão Planeta + Goku + Oliver + Doug Funny como Homem Codorna).
            Como já tentei explicar os 9 persongens, “encerro” este tópico do texto falando de Doug Funny quando ele vira o Homem Codorna. Esse personagem me foi sugerido por Renan Leitier (estudante de artes cênicas da Unirio) em 2015, e abracei imediatamente, tal como Capitão Planeta. O principal motivo de aceitar a sugestão foi a importância do desenho animado durante minha infância, inclusive passei muito tempo treinando minha linguagem artística pictórica reproduzindo o Homem Codorna (quando Doug Funny se transforma em um super-heroi e cria coragem para falar com sua amada, a Paty Maionese. O heroi que veste uma cueca por cima da bermuda e usa um cinto de roupa em sua testa só existe nos delírios de Doug).
            Outro motivo de aceitar o desafio de ser o Homem Codorna se relaciona com o delírio de Doug Funny, que, ao se transformar em super-heroi, cria coragem de falar com sua amada. Talvez eu me identifique com isso... sempre fui tímido para “chegar nas garotas”, e, quando o Chapeleiro Maluco surgia em mim, conseguia dialogar melhor (mesmo que durante as apresentações seja praticamente impossível pensar nisso de tanta correria, ainda assim é mais fácil antes e depois do evento estabelecer diálogos, “puxar assunto” com as “meninas que me interessam”).

Obs: Fiz buscas sobre cada personagem, suas histórias, e imagens. Depois pretendia inserir a imagem deles junto com as minhas ao lado – mas ficou muito difícil isso durante o evento festivo. Consegui exibir desenhos, filmes e fragmentos dos meus.  






[1] Agora está Lucas Leal Performan – Artista/ator/diretor/professor (personagem de filme).
[2] O link não funciona, pois o perfil se transformou em página. Sobre o projeto conferir no meu glob: http://nemculturanemnepotismo.blogspot.com.br/2015/08/filme-inacabado-ao-vivo-e-online.html
[3] O link não funciona – mesmo motivo da nota anterior. Ver no blog: http://nemculturanemnepotismo.blogspot.com.br/2015/08/el-viaje-del-payaso-outro-filme.html
[4] O link funciona, pois já criei como página e não como evento a partir de um perfil meu.
[5] Infelizmente me vejo sem tanta força para o projeto, mas de certa forma foi bem divertido. Aqui um vídeo legal sobre... mesmo que não tenha conseguido o financiamento coletivo.  Link: https://www.youtube.com/watch?v=YxoaQm2FMkE
[7] Algumas filmagens realmente não vou editar, nem pretendo colocar online, e sim, caso finalize um dia o filme, usar elas, ou, somente ao vivo, como já faço...
[9] Para ver o material de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=IdZGpcNkB00
[10] No evento IV do baile à Fantasia do Chapeleiro Maluco. Ver no link: https://www.facebook.com/events/120932998049340/
[13] Lembra um pouco outro personagem, o Louco do Gibi Turma da Mônica. Low vem de louco, e esta associação  só pensei na revisão final do texto, ou seja, não fez parte do estudo.
[14] Essa ideia foi abandonada por não ter mais eventos festivos na UNIRIO. Tanto o Baile à Fantasia do Chapeleiro Maluco como No Mundo Mágico de OZ são eventos que não conseguem autorização para ocorrer na UNIRIO. Por isso, acabei desistindo mesmo de ser artista. Lá na Unirio se interessam em estudar outros, e nunca nós enquanto artistas. 

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