domingo, 13 de dezembro de 2015

Moby Dick - UNIRIO + Convite para Minha defesa de TCC



MOBY DICK: UMA CRÍTICA? UM ENSAIO? UM OLHAR QUASE DE DENTRO? OU SUPERFICIAL?UM OLHAR DE FORA, NADA SUTIL[1]
(Por Lucas Leal)[2]

            Fui observar o processo de montagem do espetáculo Moby Dick (Montagem Universitária - Unirio), Direção de Henrique Escobar, e, delimitei iniciar para o estudo: O encontro onde os atores iniciam uso de texto na montagem cênica com base em trabalho corporal anterior.  Vou adotar como postura expor observações de ensaios e a estreia para o público na data 10/12/2015.
            Conheci Henrique Escobar (vulgo Tex) logo que ingressei na UNIRIO (2010.1). É um puta artista, ou melhor, um artista puta. Começando pelo fim, minha crítica vem direcionada para o momento de maturidade da trajetória artística de Henrique. Além das qualidades sociais, fundamental para o meio, o agora formando aluno-diretor já tem uma pesquisa acadêmica no mestrado, que conheço de perto.
            Prestamos THE para entrar no curso de direção juntos. Ele passou, eu não. E, torci para ele. Eu, já sabia de certa impossibilidade para mim. E, restou, ora bolas, o lugar do crítico ensaísta. Minha atividade principal hoje é escrever. E até aqui, é o que vos tento fazer. Outra coisa é essa, escrever de tudo a partir de mim. Então, se o querido leitor espera que eu fique citando Benjamim, Deleuze e Foucault para tudo, está fodido. Ah, sim, falo e escrevo palavrões!
            Vamos ao que interessa. Primeiro chamar Tex de genial é pouco. Ele é calmo. O mundo pode acabar, mas ele sabe o que quer. Fala mansa, velocidade constante, fluxo de pensamentos, proposições, conceitos, possibilidades... ele é palhaço, como eu. Nós palhaços, queremos barulho e silêncio. Queremos luzes e sombras. Queremos corpos e sorrisos.
            Queremos também o medo. O gozo. O amor. As cores. E neste ensaio sobre minha atividade como aluno de teoria do teatro na montagem de Moby Dick, vou relatar o que vi, o que senti, e o que senti que o público sentiu. Mas queria adiantar. Tudo que o Tex fizer, você tem que ver. E tem que ser ao vivo. Mas ele faz várias coisas online. Cinema e teatro. Estéticas. Imagens. Henrique é dessa nova geração de diretores. Ele não quer vender. Ele quer que comprem ele. Saca a diferença?
            Sinceramente? Eu conheço Tex desde 2010 e não sei do que ele sobrevive, mas tenho convicção que ele respira ideias artísticas. O cara fervilha em silêncio. Cada encontro com ele é uma vida inteira.  Esse lugar do gênio, artista, broder, ele tem.  E isso está em cena.
            Os atores fazem tudo que querem, mas tudo que eles quiseram, foi Henrique que fez querer. Entende a profundidade disso? Indago-me o que apreendi com tudo isso. Apreendi que há artistas por ai que precisam conhecer esse tipo de montagem. Uma pesquisa aprofundada. Um semestre inteiro, só para o corpo.
            Ele trabalha com proposições. Colagens. Experimentos. Tex brincou, como todo bom palhaço, de ser Henrique aluno diretor. Mas como todo bom Dreadslok, ele não iria produzir um teatrinho fora do seu tempo. Tex na verdade não está preocupado com o tempo. Vocês precisavam saber como foi  a oportunidade de ver o lado de cá, da produção. Eu, como não sou besta, conto o que vi, com toda permissão que me foi dada.
            Pergunto-lhes. RESULTADOS???????????? Não importa. Vamos seguir refletindo.  No Primeiro ensaio que fui observar, 23/09/2015, era o primeiro que estava tendo a colagem com audiovisual; corpo e texto. Músicas, ruídos. Colagens.
            Comecei então entrar no universo de Moby Dick (1851 escrito por Herman Melville – EUA)[3]; trata-se de uma caça a Baleia que recebe o nome do texto. A saga do capitão que teve sua perna comida pela baleia, remontada por Henrique nos possibilita um olhar das pessoas do barco, mas, será que a baleia derruba o barco e leva o capitão ou ele caça e mata Moby Dick?
            Tentando unir e entender o processo colaborativo com os atores, observei atento como se dava o padrão das ações cênicas. Em cena: sombras; corpos; luzes; objetos. Para este texto, decidi entender o que vi nos ensaios e compreendi na estreia 10/12/2015. 
            O texto traz a paranoia do capitão, e o sublime da montagem está nos múltiplos olhares que Tex nos proporciona. Além disso, sua trajetória de ocupações de espaços cênicos distintos do tradicional, o fez explorar o fora, o dentro e o todo do espaço teatral. A escolha de direção é por perceber o universo cênico dentro de um real vivido antes do palco. Essa foi uma saída visual escolhida por ele. Confundir o início, o fim e o meio. Para mim, não teve fim, há ainda uma dúvida, morte do capitão ou da baleia?
            No primeiro dia de observação presenciei leitura técnica com texto/corpo, partindo do trabalho de 2015.1 (só corpo; sensações; colagens). Após apresentar o processo, o aluno diretor Henrique Escobar iniciou o Ensaio/colagem. Neste dia o intuito foi: transpor uma “dança” do corpo já montado ao longo do trabalho em 2015.1 pelo grupo de atores; depois teve uma junção visual.
            Os atores começaram juntar ações da dança com o texto, em uma passagem técnica (verbal) e outra mais mental. A necessidade de áudio visual caracteriza a estrutura física utilizada no ensaio/colagem. Os atores tiveram  tempo, já com certa luz e posterior áudio, para preparação individual/coletiva das ações cênicas. Aos poucos os objetivos foram sendo alcançados, pensando na  montagem cênica, com marcação espacial; de sombras e luzes; corpo e vozes.
            Henrique começou então adotar essa ideia de treinamento com leituras diversas; sobreposição de luzes; músicas e novas leituras. Em alguns momentos os atores leram ao mesmo tempo fragmentos do texto adaptado por Paulo Roberto Munhoz[4], que assina a dramaturgia. Essa parte foi também paralela com os atores atuando com objetos na luz, por trás do pano (baleias; barcos; sereias; etc).
            Na adaptação com o texto tivemos muitos momentos de diálogos (entre o capitão e várias pessoas divididos em A e B). A ideia dele foi evitar dividir os personagens para cada ator (isso reflete na cena a presença de “vários atores representando o capitão”). A leitura do texto depois de um improviso com áudio e luz foi feita sem interpretação e entonações (leitura de texto). Foi de forma DIRETA (expressão utilizada pelo aluno/diretor).
            Continuando o treinamento, tivemos os atores andando pelo espaço e lendo em duplas A/B durante diálogo (escolhido pelo aluno/diretor). Essa parte durou cerca de 30 minutos e também reflete na cena que vi na estreia; os atores bem conscientes do olhar e direcionamento do seu corpo; formando padrões de ações em duplas; em grupos e individuais.
            Os treinamentos com Tex são alegres e tranquilos. Ele sempre deixa um intervalo. Além disso, TEX é o TEX, muito tranquilo.   Gostei quando vi os atores lendo texto na frente do pano (que hoje  são as velas – inclusive, belo trabalho da equipe de cenografia); também teve improviso com lanterna; cerimônias e jogos teatrais internos do elenco; sempre no universo do mar; velas; remadas; balanço.. etc.
            Nesse momento queria apontar para visível percepção do trabalho do ator e seus duplos; máscaras, bonecos e objetos, explorados no trabalho do Palhaço Tex (ao menos o que vi no Cabaret Tex[5]). Ele adota principalmente objetos, mas em cena, o corpo prevalece. Após muito ensaio o grupo foi para o palcão e estreou dia 10/12/2015. Antes, apresentou um ensaio/aberto para apreciação dos orientadores e equipe de cenografia e teoria.
     Nesse dia os atores se prepararam abertamente com a presença do “público”. Sons/falas/livros/poemas/ e falavam de baleia; colando citações e referências; com sombras; textos; imagens. Um som eletrônico constante em cena ditou o ritmo; suspense; tensão. No fim masterizam o som da ação “morte da baleia ou do capitão?” Após essa apreciação tivemos reunião com os alunos de teoria e apresentei minha proposta: Análise crítica: enfoque no texto colado ao trabalho criativo do corpo do ator. Minha ideia era discutir essa relação do corpo, sombra e luzes com o texto, na proposta de Tex.  
            A montagem acaba tendo um toque sacro; de encantamento; várias linguagens em cena; várias línguas faladas; vários corpos; várias luzes; várias sombras; várias mortes; várias cenas e imagens. A melodia que se repete dá sensação de mar. Sem personagens, há estados de seres. Há, em cada um, seu próprio ser. Vários olhares.
            Importante trabalho de colagens com muito estudo dos atores com a cenografia, que dita também os principais momentos do espetáculo. Além disso, o figurino é uma coisa mística. Eu, como espectador, coloquei a música “só para loucos” de Ventania e muito Reggae de Bob Marley, para relaxar, depois desse show de luzes e corpos – reflexão e ação cênica.
            Acredito ainda que a tradicional escola de direção teatral ainda inculca muito texto em suas montagens, mas Tex consegue brincar com isso. Explora ritmos e falas extra-cotidianas. Na estreia a Luz foi experimental, mas funcionou. E me questionei: o que é “pós-dramático”? Foram muitas luzes e sombras nas cenas. Muitas luzes. Muitos signos; imagens; subjetivações; capitães; jogos cênicos claros.
            Henrique fez o público não saber o que olhar. Isso foi incrível. A guitarra ao vivo, interagindo, confunde atores e público. Onde estamos? Não importa. Há em cena sempre a dança/ballet contínua. No fim, uma luz vermelha led temporizando lentamente a interpretação de qualquer coisa que esteja acontecendo. Alucinante.
            Queria concluir essa crítica dizendo que acho muito engraçado o mundo do teatro. Nós nos estressamos, discutimos, ficamos putos, temos raivas e as vezes queremos matar a pessoa que estamos trabalhando. Mas, tem vezes, e isso importa muito, mesmo putos e cansados, saímos depois da apresentação. Comemos e bebemos juntos. Até beijamos e transamos.
            Nós somos loucos. Loucos para viver. Loucos para romper. Se aqui vos escreve este que se chama Lucas Leal, e conhecido por muitos por Chapeleiro maluco, sobre um processo de montagem, como aluno teórico, tenham certeza, é porque já tinha muito interesse no trabalho de Tex. Tentei ilustrar aqui encontros fortuitos, entre pessoas, baleias, histórias, loucuras e tentativas, com sensações simbólicas que o próprio espetáculo Moby Dick, na Direção de Henrique Escobar TEX traz ao público. São, serão, foram e vão ser, loucuras, sonhos, devaneios, luzes, sombras, RUM, amigos e disputas... e eu diria “PUTA”, diria “CARALHO”, diria qualquer palavrão “FODA” para dizer:
A montagem foi um envolvimento de mais de 30 pessoas. Experimentamos juntos, e ler essa crítica, na verdade, vai te deixar sem saber do que se trata. Então, tem que ir ou não ir. Escolham. Eu fui. Acho que vocês poderiam querer. Ou deveriam querer.

EVENTO[6]

Release
            Moby Dick é a peça de formatura do aluno Diretor Henrique Escobar. O processo de criação com os atores começou em Março de 2015, e agora entraremos em cartaz na UniRio na Sala Paschoal Carlos Magno (Palcão), no Centro de Letras e Artes (Av. Pasteur, 436, Urca), e convidamos a todos para assistirem no dia 10 até o dia 22 de dezembro, as 20 horas.
 
            A entrada é franca, com distribuição de senhas uma hora antes do espetáculo.
A história do escritor americano Herman Melville, Moby Dick, é recontada através do teatro com direção de Henrique Escobar. O processo durou um ano de trabalho com orientação de Moacir Chaves. Moby Dick reflete o para além do mar, para além do tempo. A peça exprime o fascínio do mar e a fragilidade da vida.
Ice a âncora, prepare os botes, confira as vergas, linhas e arpões que o Pequod vai partir! Venham para bordo deste baleeiro!

Venham ver o nosso AHAB!!!

FICHA TECNICA
Diretor: Henrique Escobar
Orientador: Moacir Chaves
Dramaturgista: Paulo Roberto Munhoz

Orientadoras Teóricas:
Evelyn Furquim 
Flora Süssekind

Elenco: 
Ana Rosa Oliveira
Cintia Luando
Daniela Monteiro Kupek
Isabour Estevão
Ivan Faria
Natália Bunahum
Rodrigo Andrade
Thaísa Violante
Vitor Peres 

Cenografia:
Angélica Grativol
Ella Castro

Assistente de Cenografia:
Beatriz Magno
Rahira Coelho

Figurino:
Aline Besouro
Bia Lopes

Iluminação: Anna Cecilia Cabral

Músico: Luizinho Alves

Alunos Teóricos:
Ana Thereza
Carla Marins
Lucas Leal
Lucianna Lua


EQUIPE TÉCNICA DA UNIRIO

Técnico de Luz: Anderson Ratto
Cenotécnicos: Derô Martin e Alexandre Guimarães
Costureira: Katia Salles
Acervo de Figurino: Cátia Viana
Contrarregra: Paulo Barbeto
Produção: Marcio Leandro e Michelle Carneiro
Iluminação: Jorginho de Carvalho




Abraços,
Lucas Leal[7]


LEMBRANDO MINHA DEFESA....


LINK: https://www.facebook.com/events/1263339430359338/




[1] Crítica/ensaio para servir como Relatório da disciplina Prática de Montagem II (2015.2)– Departamento de Teoria do Teatro; supervisão acadêmica da professora Dra. Maria Flora Süssekind.
[2] Historiador, mestre em políticas públicas em educação e formando em teoria do teatro – UNIRIO.
[4] Formando em Teoria do Teatro – UNIRIO.
[5] Primeira montagem que vi no palcão – 2010. Por isso o prazer de fazer essa crítica, última montagem que vejo na Unirio como aluno de teoria. Obrigado Tex, Flora, Moacir, e toda equipe por me receber.
[7] Para ver mais trabalhos do autor da crítica. http://nemculturanemnepotismo.blogspot.com.br/

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